São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 1997
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Paiva afia o argumento pró-mínimo

OSCAR PILAGALLO
EDITOR DE DINHEIRO

O reajuste do salário mínimo, embora ligeiramente abaixo da inflação projetada para os 12 meses até 1º de maio, significa ganho para os trabalhadores nessa faixa.
Isso é o que tem dito o governo desde que anunciou, na semana passada, o salário mínimo de R$ 120. Ontem, o ministro do Trabalho, Paulo Paiva, reuniu um grupo de jornalistas em São Paulo para elaborar o argumento oficial.
A defesa que faz do mínimo -com a qual espera neutralizar as manifestações de descontentamento programadas para o Dia do Trabalho, depois de amanhã- se sustenta em dois dados. Um não é mensurável, o outro é condicional.
O primeiro é a "sensação de bem-estar" propiciada pela menor variação do poder de compra do salário ao longo de um ano.
Para Paiva, a menor dispersão dos valores reais dos salários em relação à média anual já é, por si, um ganho dos trabalhadores.
"Nos tempos de inflação e reajustes elevados tínhamos um pé no fogo e outro no gelo", disse, em referência à forte oscilação do poder aquisitivo dos salários antes do Real. Ele reconhece que a impressão de que o bem-estar aumentou não pode ser medida.
O segundo dado que pode ser usado em defesa da política salarial é condicional -depende da inflação nos próximos 12 meses.
Para haver ganho real, a inflação no período precisaria ficar abaixo de 7%, segundo Paiva. Esse teto é hipótese razoável, segundo projeções de institutos de pesquisa.
Paiva anda munido de dois gráficos, reproduzidos acima, para defender a política oficial. Um deles mostra que o valor real arredondado do salário mínimo ficou em R$ 116 nos últimos 12 meses.
Se a inflação no período em que vigorar o novo salário mínimo for de 7%, essa média anual será mantida. Se for superior -hipótese menos provável-, haverá perda real. E se a inflação for mais baixa, haverá um pequeno ganho.
Os ganhos tendem a ser reduzidos. Após o salto de 1995, a subida passou a se dar em degraus menores e assim deve continuar.
A explicação, do ponto de vista econômico, é que, com a perspectiva de estabilidade dos preços, há menor necessidade de recompor o poder de compra futuro.
Na prática, o que conta é o impacto negativo sobre as contas públicas. Ao elevar o mínimo, o governo mais sobrecarrega a folha de pagamentos do funcionalismo público e aposentados do que influi no mercado de trabalho.
Cada vez mais, menos trabalhadores ganham o mínimo. "O mínimo está descolado do mercado", diz Paiva. Para corroborar sua tese, ele usa dados de 95, os últimos que estão consolidados: só 4,38% dos trabalhadores no mercado formal ganham até um mínimo.

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