São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 1997
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Benvindos à era da bilheteria virtual

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, o novo sistema de televisão "paga para ver" (pay-per- view), que agora é oferecido às telinhas (hoje em dia, nem tão telinhas assim) brasileiras, pode ser uma formidável fonte de recursos adicionais para os clubes brasileiros, além, é claro, de ser uma ótima oportunidade de negócios para os concessionários que exploram o inusitado serviço no Brasil.
Não é por acaso que os dois principais grupos que disputam o mercado local de distribuição de programação por intermédio das parabólicas pequenas travam uma árdua batalha pelos direitos de transmissão do próximo Campeonato Brasileiro.
Além do jogos que serão oferecidos (dois por semana) em comum com as outras duas modalidades de distribuição em TVs por assinatura (cabo ou MMDS), dependendo dos recursos disponíveis de cada lado, Directv e Sky, nas chamadas "pizzas", podem ainda oferecer uma quantidade de jogos exclusivos para quem estiver disposto a pagar para vê-los em casa.
Os números, nesse sistema, podem ser assombrosos.
Nos EUA, por exemplo, as vendas de "ingressos virtuais", no sistema pay-per-view, para o pacote especial de três lutas de boxe do lutador americano de descendência mexicana Oscar de La Hoya deve render à operadora, que leva o sugestivo nome de TVKO, cerca de US$ 36 milhões.
Para se ter uma idéia mais clara, a cifra de três (isso mesmo, três) lutas de boxe representa mais de 20% da quantia que as televisões abertas pagarão aos times brasileiros pelos direitos de transmissão de três (isso mesmo, três) Campeonatos Brasileiros inteiros.
Segundo a revista "Multichannel News", especializada nos negócios de TV, 860 mil pessoas compraram a luta de La Hoya contra Pernel Whitaker, no último dia 12, um público 20 vezes maior do que o que foi ao Pacaembu, no domingo, para ver o jogo entre Corinthians e Lusa.
Ainda segundo a revista, a renda da luta entre La Hoya e Whitaker é expressiva por que se tratava de um combate entre lutadores que não são pesos-pesados, as maiores atrações dessa bilheteria virtual.
Como esta coluna vem insistindo há tempos, o esporte ocupa, cada vez mais, espaço na indústria da diversão.
Virou negócio de gente grande, muito grande. O futebol brasileiro chegará lá?
Bem que eu desconfiava. O modelo de co-gestão não é o ideal para o futebol brasileiro.
O sistema expeliu o GAP do Corinthians e agora expeliu José Carlos Brunoro, talvez o mais eficiente administrador que trabalha no futebol local.
Só há uma saída: transformar os clubes em empresas.
Clóvis Rossi me avisa que a revista da Fifa traz reportagem sobre os times ingleses que estão na Bolsa de Valores.
Nela, Patrick Harverson, do "Financial Times", pergunta por que o futebol interessa aos investidores agora, já que não interessava anos atrás?
Ele responde: "os investidores se distanciavam do futebol por que não confiavam nas pessoas que dirigiam os clubes...".
Precisa dizer mais?

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