São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 1997
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Consumo industrial causou blecaute

DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento do consumo de energia elétrica pelas indústrias, somado à falta de planejamento das empresas do setor elétrico, determinou os blecautes que atingiram o Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país na semana passada.
Ao estudar as causas do incidente, a Eletrobrás identificou, em reunião no domingo passado, um aumento súbito no consumo de um determinado tipo de energia -a reativa- bastante empregado em motores elétricos.
Antes disso, a empresa havia apontado para problemas na subestação de Ibiúna e cogitado até uma sabotagem ao sistema.
A Folha apurou junto à estatal que, em São Paulo, o consumo de carga reativa chegou a 1.800 megaWatts-hora -o normal é 1.400 mW-hora- nos dias de blecaute, quinta e sexta passadas.
A Eletrobrás sabia que o consumo do setor industrial vinha crescendo. Em 1996, as indústrias gastaram 1,1% mais energia que em 95. Já no primeiro trimestre de 1997, o consumo aumentou 3,3% em relação ao ano passado.
"As indústrias consomem metade da energia produzida no sistema Sul/Sudeste. Assim, qualquer alteração nesse consumo produz um efeito grande na rede", disse Mauro Arce, diretor de Geração e Transmissão da Cesp. Segundo ele, o consumo residencial responde por 26% do sistema.
O incremento do consumo industrial sobrecarrega ainda mais os sistemas de transmissão de energia, que já trabalham no limite de sua capacidade no horário de pico (entre 18h e 19h).
Além disso, o planejamento de fornecimento de energia é baseado na carga ativa, para a qual o país tem mais equipamentos de medição, e não na reativa.
Na prática, não há como dissociar as cargas para distribuí-las em separado. Ambas fazem parte da energia elétrica e transitam juntas pela rede de transmissão.
Terceira linha
Para o presidente do Sindicato dos Eletricitários de Furnas (Sindefurnas), Ataíde Vilela, a solução para o abastecimento de energia para o Sudeste, em especial para a Grande São Paulo, está na construção de uma terceira linha de transmissão para ligar a usina de Itaipu à metrópole.
"A energia existe, mas o sistema está estrangulado. A terceira linha, que já está planejada, tem sua área definida, aliviaria o problema", disse ele.
A Eletrobrás não considera que a terceira linha resolva o problema de abastecimento.
Até agora, o que a empresa fez foi colocar em funcionamento, em caráter emergencial, três usinas termelétricas que se encontravam em manutenção.
Além disso, estuda aumentar a tarifa domiciliar para a energia consumida no horário de pico.
"Isso não basta. Tem de investir em infra-estrutura e fazer com que as indústrias controlem mais seu consumo", afirmou Vilela.

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