São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 1997
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Indicações beiram o caos

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Com um grupo heterogêneo de julgadores -que vai de Itamar Assumpção a Alcione, de Hermínio Bello de Carvalho a Roberta Miranda-, o Prêmio Sharp apresenta um rol de indicados algo caótico.
Começa pela bagunça na definição de categorias concorrentes. São nove: MPB, samba, pop/rock, canção popular, regional, instrumental, infantil, clássico e especial.
A MPB, que se poderia definir como principal categoria -já que se trata de um prêmio de música popular brasileira-, se vê furtada do mais forte disco de MPB do ano, "Bebadosamba", de Paulinho da Viola. Porque ele é transferido para a categoria samba.
A MPB também perde filiados para a música regional, no visor retalhado do júri. Chico César aparece discretamente, concorrendo apenas a melhor música nessa categoria. E aí são classificados artistas de projeção bem mais que regional, como Moraes Moreira, Elba Ramalho e Daniela Mercury.
Outro pilar da MPB, Roberto Carlos é transferido à seção popular -que se pode traduzir por brega mesmo. OK, Roberto tem flertado com o gênero, mas colocá-lo a competir com Francisco Petrônio e Agnaldo Timóteo a melhor cantor do ano é algo insultuoso.
Na mesma pancada popular, foi cair Sandra de Sá. "A Lua Sabe Quem Sou Eu" é o CD mais pop -não popular- de sua carreira. Concorre com o brega explícito de Rosana.
Em pop/rock é que se estabelece o absurdo: querem eleger a revelação do ano entre Carlinhos Brown e a cantora de MPB Silvana Stiévano. Ora, façam-nos o favor. Querem premiar Edson Cordeiro melhor cantor. Sem comentários.
Esquecidos
Fora os absurdos, há os injustiçados. "Âmbar", de Maria Bethânia, seu melhor disco em décadas, é esquecido na categoria MPB e tem de dar lugar a "Catavento e Girassol", de Leila Pinheiro. Nem a cantora ela concorre -mas ao menos Nana Caymmi concorre.
No quesito pop/rock, o conservadorismo do júri impede o mangue beat de Mundo Livre e Chico Science e a experiência tecno de Edgard Scandurra de concorrer. Prefere-se o pop regionalista de Skank e Paralamas do Sucesso.
Revelações como o soul-pop mineiro do j. quest nem foram citadas. Afinal, Carlinhos Brown deve ser lembrado.
Nem tudo é injustiça, claro. Por isso, por exemplo, os três sambas concorrentes a melhor do ano são de Paulinho da Viola. Por isso Cássia Eller concorre a melhor cantora pop/rock. Por isso Mônica Salmaso e Renato Braz disputam o título de revelação da MPB. Por isso Caito Marcondes é lembrado na categoria instrumental.
Mas, no todo, o que se vê é ou a predominância do aleatório ou aquela velha prática nacional de querer agradar todo mundo de uma vez. Parece que já temos nosso Grammy.

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