São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 1997
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QUANTIDADE E QUALIDADE

A discussão sobre a balança comercial ficou excessivamente centralizada no tamanho do déficit, no seu aspecto quantitativo, quando há evidências de que existem também problemas qualitativos, ou seja, é preciso discutir mais o tipo de déficit.
Um dos problemas, apontado pela Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), é a aparente não-modernização do parque fabril. O governo vem batendo na tecla de que grande parte do déficit comercial se deve ao aumento das importações de máquinas e equipamentos, o que seria um fator positivo: a indústria estaria se modernizando e reequipando-se, via importações, o que lhe permitiria, em um certo prazo, produzir mais e melhor.
Os dados da Abimaq mostram que o chamado consumo aparente (a soma das importações com a produção local) foi, em 1996, inferior ao de 1990 (US$ 19,75 bilhões em 90 contra apenas US$ 17,70 bilhões em 96).
Traduzindo: não estaria havendo modernização, mas substituição (assim mesmo insuficiente) de equipamentos nacionais por importados. É possível que esses números indiquem apenas que esse tipo de equipamento ficou mais barato.
Mas um outro estudo, este da Abifarma, reforça a hipótese de que a pauta comercial do país enfrenta problemas qualitativos. O valor agregado das importações em geral (custo em dólar por tonelada) aumentou muito, nos três últimos anos, ao passo que idêntico valor para as exportações manteve-se estagnado.
O país importa hoje produtos mais "ricos", mas suas exportações continuam "pobres". Como lembra o ex-ministro de Indústria e Comércio Pratini de Moraes, o Brasil precisa exportar 200 toneladas de minério de ferro ou 15 de soja para importar um único microcomputador avançado.
Há razões, portanto, para uma inquietação que ultrapasse a mera contabilidade. O país precisa descobrir ou definir uma vocação que lhe permita acrescentar às exportações tradicionais nichos de alto valor agregado, sob pena de ver abrir-se uma perigosa brecha nas contas externas.

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