São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 1997
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A Vale não vale tanta energia

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Parecem exageradas as energias que oposição e governo estão gastando no caso Vale do Rio Doce.
Se a Vale, em mãos do Estado, fosse a salvação da lavoura, como parece acreditar uma fatia importante dos que se opõem à venda, o Brasil não seria o país precário que é.
A pilha de estatais que foi se acumulando, boa parte delas durante o período militar, não parece ter bastado para transformar o Brasil em algo capaz de encher de orgulho a sua gente.
Tampouco parece decisivo, para os destinos da pátria, o fato de a Vale ser privatizada. Se privatização fosse sinônimo de bem-estar, como acreditam os que batalham dia e noite pela privatização, a maioria dos brasileiros estaria hoje correndo para instalar-se, por exemplo, na Argentina, que privatizou quase tudo e nem por isso é um país de dar inveja.
A batalha ideológica estatal x privado fica menos importante ao se olhar, por exemplo, para os resultados do "provão", divulgados na semana passada. A maioria das boas escolas é pública, não privada.
Sinal de que o Estado brasileiro é um bom administrador escolar, embora tenha se revelado mau gerente em inúmeras outras áreas? Nem isso. O ensino público básico, ruim com poucas exceções, é um desmentido claro a essa hipótese.
Parece ser apenas sinal de que a pressão social por uma boa universidade pública faz efeito, por partir dos ricos e da classe média que a frequentam, ao passo que o ensino elementar público é para os mais pobres, menos influentes politicamente.
A questão parece ser, pois, a serviço de quem está o Estado. Se continuar a serviço dos de sempre, fica irrelevante saber se a Vale deve ser estatal ou privada. Pouco muda. Se, ao contrário, a maioria conseguir organização e presença suficiente para impor a sua voz, também será irrelevante saber quem é o dono da Vale. Os benefícios de sua atuação terão, fatalmente, outros destinatários.

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