São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 1997
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Malan e d. Arns

ANTONIO DELFIM NETTO

À medida que se constata o pequeno crescimento de nossas exportações, crescem as justificativas mais estapafúrdias para o déficit no balanço comercial.
O déficit em si não teria importância se as mudanças estruturais que necessariamente devem acompanhar os processos de abertura da economia estivessem na direção correta.
Ao contrário do que supõem modelos com hipóteses absurdas para o caso brasileiro (como por exemplo a de que a "fuga de capitais" é função positiva com relação à taxa de inflação), a estabilização e a abertura comercial tendem a depreciar a taxa de câmbio real.
O velho economista e sociólogo franco-italiano Vilfredo Pareto (1848-1923) dizia que com hipóteses convenientes pode-se construir a mais linda teoria para gerar a mais desejada conclusão. O problema é que um mísero fato pode destruir a mais bela e sofisticada teoria.
A partir de 1990 houve uma abertura comercial necessária e saudável, às vezes prejudicada pelo excesso de voluntarismo das autoridades.
Durante algum tempo as tarifas foram utilizadas como mecanismos de vingança e não de política comercial: se um preço subia internamente por efeito de um descompasso entre oferta e procura, reduzia-se a tarifa a zero para punir o setor, eliminando-se, assim, o papel sinalizador do sistema de preços.
Esses fatos foram agravados com a posterior sobrevalorização do real e as elevadas taxas de juros que ela exigiu. Setores competitivos, mas carentes de suporte creditício de longo prazo como, por exemplo, o setor de bens de capital, foram abandonados à sua própria sorte e quase dizimados por uma concorrência predatória.
A porcentagem das importações sobre o consumo aparente daquele setor passou de 13% em 1989 a 48% em 1996. E no setor industrial como um todo, esse coeficiente de penetração passou de 5% em 1989 a 16% em 1996, conforme mostrou o economista Maurício Mesquita Moreira num cuidadoso trabalho.
Tudo saudável, desde que as exportações estivessem crescendo ou que os investimentos em produtos exportáveis estivessem explodindo, dando segurança de que em três ou quatro anos teríamos o mesmo dinamismo exportador. Mas não é isso o que está acontecendo, como mostra para quem quer ver a pesquisa CNI/Cepal "Investimentos na Indústria Brasileira: 1995-99".
No fundo a explicação de tudo isso é simples e reconfortante, porque mostra que existe racionalidade econômica no Brasil: os setores mais rentáveis da economia são hoje o mercado interno e a importação. O setor menos rentável e mais arriscado é a exportação.
Seria espantoso se os empresários estivessem agindo de forma diferente. Para explicar o seu comportamento seria preciso uma teoria econômica apoiada no altruísmo e não no egoísmo, o que recomendaria a substituição do ministro Malan pelo nosso querido d. Arns.

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