São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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Saúde quer ensinar mulher a negociar sexo

EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Um projeto financiado pelo Ministério da Saúde vai ensinar mulheres casadas de São José do Rio Preto a negociar sexo com o marido para prevenir a Aids.
Em reuniões nos moldes de um chá de cozinha, serão explicadas as formas de contágio e de prevenção da doença.
O projeto, pioneiro no país, é específico para a cidade, onde a relação de novas mulheres portadoras no ano passado foi de 1 para cada 1,2 homem, segundo o programa municipal de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e Aids. A média nacional é de 2,7 homens para cada mulher.
As orientações vão ser passadas para 750 mulheres de São José do Rio Preto (451 km a noroeste de São Paulo) no Projeto Mulher, que começa a ser desenvolvido no próximo mês, ao custo de R$ 62 mil.
O público-alvo são empregadas domésticas e donas-de-casa, consideradas mais vulneráveis à doença. A constatação foi feita a partir de uma pesquisa com o perfil de 30 doentes e portadoras de HIV.
Quarto lugar
A cidade é a quarta do país em incidência de Aids. Desde 1986, 1.207 pessoas desenvolveram a doença, das quais 262 são mulheres. Do total, 673 morreram.
No ano passado, foram cadastrados 86 novos casos de portadoras de HIV, para 105 casos em homens. Outras 46 mulheres desenvolveram a doença.
O que leva a mulher a essa postura de risco, na avaliação da coordenadora do projeto, Maria Inês Spinelli Arantes, é a relação de dependência, especialmente financeira, que mantém com o marido.
O objetivo do projeto é despertar, nas mulheres com esse perfil, o sentimento de auto-estima, o que inclui aprender a "negociar" formas de prevenção. O projeto vai envolver o Sindicato das Empregadas Domésticas da cidade, onde será instalado um posto de distribuição de preservativos.
Dez líderes do sindicato serão treinadas e vão receber um salário mínimo por mês para ser "educadoras" por um ano.
As aulas, chamadas de "festas de sexo seguro", serão dadas em quatro etapas de duas horas cada, para grupos de 15 mulheres, sempre na casa de uma delas, nos moldes de um chá de cozinha.
Pretende-se ensinar, por meio de dramatizações com técnicas interativas, o que é Aids, como se pega, sintomas, como evitar, direitos de pessoas com HIV e efeitos da cocaína, crack e álcool -principais drogas consumidas na região.
As participantes vão receber, além de diplomas e camisetas, preservativos e senhas para testes gratuitos de Aids.
Antes e depois das aulas serão aplicados questionários que, ao final de um ano, vão medir o grau de aprendizagem. O número de camisinhas procuradas espontaneamente no sindicato e de testes gratuitos realizados vai ajudar a medir a eficácia e a eventual continuidade do projeto.

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