São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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Conservadores ousaram mais na campanha

PAULO HENRIQUE BRAGA
DE LONDRES

Para evitar o desgaste do partido durante os 80 dias de campanha eleitoral, os trabalhistas optaram por uma estratégia quase apagada, evitando tocar em questões de seu manifesto que pudessem dar espaço aos ataques dos conservadores.
A receita foi não expor Tony Blair para evitar qualquer virada inesperada na vantagem desfrutada pelo partido nas pesquisas.
"Seria bobagem agir diferente quando se está ganhando de 5 a 0. Você não parte para o ataque para fazer bobagens, você defende sua vantagem", disse coordenador da campanha dos trabalhistas.
A estratégia dos trabalhistas foi definida seis meses atrás, quando Gordon Brown, responsável pela condução da política econômica do partido, publicou uma proposta de orçamento, assegurando que não haverá aumento de impostos.
Uma das razões para a derrota na campanha de 1992 foi a defesa aberta do aumento de impostos. Dessa vez, os trabalhistas partiram para a ofensiva. Apresentaram 22 aumentos de impostos feitos pelo governo conservador.
Na maior parte do tempo, os trabalhistas enfatizaram as características negativas dos conservadores, particularmente as divisões do partido sobre a questão européia.
O ataque mais ousado -e mais contestado- foi em relação à proposta de modificar o sistema de pensões e aposentadorias. O partido de Blair atacou dizendo que os conservadores pretendem acabar com as as pensões. Na verdade, há apenas um plano para transferir gradualmente o sistema público de pensões para fundos privados.
Conservadores
Talvez por estarem em desvantagem, os conservadores fizeram uma campanha mais movimentada, arriscando mais.
Durante as seis semanas que antecederam a votação, a campanha se baseou nas qualidades pessoais de John Major, sua habilidade em conduzir a economia do país.
O primeiro-ministro foi apresentado como o homem em quem os britânicos podem confiar para negociar os interesses do país junto à União Européia.
O momento mais dramático da campanha conservadora foi quando Major chamou a atenção dos parlamentares de seu partido que rejeitam abertamente o estreitamento dos laços do Reino Unido com a União Européia.
"Gostem de mim ou me odeiem, não amarrem minhas mãos quando estou negociando em nome do povo britânico", afirmou.
Os conservadores tentaram transformar a divisão interna em uma maneira de ganhar votos, apelando para o eleitor eurocético.
A estratégia foi coroada pela publicação de um anúncio nos jornais em que Blair aparecia como um boneco de ventríloquo, sentado no colo do chanceler (premiê) alemão, Helmut Kohl.
Uma pesquisa divulgada no início da semana passada pelo jornal "Guardian" deu alguma esperança aos conservadores, que acreditaram que sua estratégia estava realmente funcionando.
Segundo o instituto ICM, a liderança dos trabalhistas era de apenas cinco pontos percentuais.
A pesquisa conseguiu esquentar as eleições por alguns dias. Foi depois do levantamento do ICM que os trabalhistas acusaram os conservadores de ameaçarem o sistema de pensões.
Major lembrou que sua própria família teve de sobreviver com o dinheiro de uma pensão pública, e que a intenção dos trabalhistas era apavorar o eleitorado.
Qualquer mudança significativa no cenário, porém, foi desmentida por levantamentos publicados nos dias seguintes, nos quais a liderança dos trabalhistas ficou em torno de 18 pontos.
(PHB)

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