São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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PURGATÓRIO ASTRAL

Crise seria uma palavra abusivamente forte para descrever o momento pelo qual passa o governo Fernando Henrique Cardoso.
Mas o presidente enfrenta uma soma de dificuldades, dissociadas umas das outras, que parece configurar um purgatório astral.
Isolado, cada um dos problemas é relativamente pequeno. Mesmo o que ocupa as atenções gerais no momento, os entraves à privatização da Vale, tende a ser superado. O adiamento do leilão é um desgaste, mas parece claro que, cedo ou tarde, a desestatização acabará por ocorrer.
E o que de fato importa é privatizar a empresa, muito mais do que saber o dia em que se realizará o leilão, por mais valor simbólico que a data tenha adquirido.
A lista de problemas é ampla. Começa com a marcha dos sem-terra, que, pelas dimensões que tomou, forçou o presidente a receber uma comissão do MST, contrariando a posição inicial de não dialogar com um grupo que FHC chegou a chamar de "primitivo".
Passa pelo risco de que as emendas constitucionais relativas à Previdência e à reforma do Estado sejam desfiguradas, anulando os efeitos que o Executivo esperava obter com elas.
Inclui até uma minicrise com o PMDB, partido fundamental para a base governista, pelo número de parlamentares que possui.
O purgatório astral não decorre, porém, da dimensão de cada problema, mas do fato de que eles coincidiram, todos, em um curto período.
É visível que a soma de dificuldades fez efeito até sobre o humor do presidente, que antes dizia ser "fácil" governar o Brasil, mas, na semana passada, reclamou da "vida difícil".
Parece visível que o conjunto de dificuldades retirou do governo o poder de iniciativa. Mais reage do que age. E, pior, reage com invectivas contra todos os que o criticam, preferindo desqualificar os críticos em vez de contestar seus argumentos.
Não parece ser o melhor caminho para voltar à estrada do paraíso.

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