São Paulo, sábado, 3 de maio de 1997
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Inquérito aponta 'homicídio qualificado'

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

A reconstituição da morte do segurança José Lopes Oliveira, 35, o Django, feita ontem à tarde na fazenda Borborema, em Tamarana (norte do Paraná), comprovou que ele foi morto depois de dominado, segundo a Polícia Civil do Paraná.
O delegado Jurandir Gonçalves André, que preside o inquérito, disse que a reconstituição agrava a situação penal dos responsáveis pela morte de Django.
Segundo André, "eles irão responder por homicídio qualificado". A pena, no caso, varia entre 12 e 30 anos de reclusão.
Oliveira foi morto no último domingo por um grupo de 20 sem-terra. No confronto entre sem-terra e seguranças da fazenda, invadida há dez meses, um outro segurança e um sem-terra ficaram feridos.
Na reconstituição, ficou constatado que Django estava em um plano inferior ao atirador, sem condições de defesa e já dominado quando recebeu o disparo a cerca de 40 centímetros.
A reconstituição da posição do corpo do segurança quando de sua morte foi feita por peritos do Instituto de Criminalística de Londrina e policiais civis. O promotor da 1ª Vara Criminal de Londrina, Janderson Camões de Carvalho Iassaka, acompanhou a reconstituição.
O promotor deverá acompanhar todas as etapas do inquérito policial. Na próxima segunda-feira, cerca de 15 sem-terra serão ouvidos pelo delegado André na Delegacia de Polícia de Tamarana (343 km ao norte de Curitiba).
Ontem pela manhã, o Instituto de Criminalística de Londrina recebeu uma "fita bruta" (antes de ser editada para ser levada ao ar) da TV Londrina (afiliada à Rede Bandeirantes) para análise, a pedido do delegado André.
Identificação
O delegado quer a identificação de um grupo de sem-terra que aparece na fita no momento do ataque à casa do administrador da fazenda Borborema, onde Django foi morto.
Na fita, há ainda gravações de ameaças de Django aos sem-terra um dia antes de ser morto. Nesse dia foi gravada uma reunião de sem-terra que teria decidido por um revide às agressões do segurança.
O delegado disse buscar na fita "elementos técnicos" que comprovem que os participantes da reunião seriam os mesmos que atacaram a casa no domingo.
Segundo André, outro objetivo da análise técnica da fita é a identificação, "em fotografia", de todos que participaram do confronto.
Ele disse querer ter "certeza técnica sobre a semelhança entre um dos que participaram do ataque e um dos líderes do MST na região".
Esse líder seria, de acordo com o delegado, Josmar Choptian, líder do MST na região de Londrina. "A semelhança entre a pessoa que aparece no ataque e o Josmar é grande, mas queremos comprovação técnica disso", afirmou.
O Instituto de Criminalística de Londrina não informou quanto tempo irá demorar para identificar todos os envolvidos que aparecem na fita da TV Londrina.
Em encontro com advogados do MST ontem pela manhã em Londrina, o delegado propôs prazo até a próxima quarta-feira para que o MST apresente de forma espontânea os sem-terra envolvidos no confronto.
Segundo André, a partir de quarta-feira os sem-terra serão intimados "à medida que forem identificados". Aqueles que não comparecerem à polícia terão suas prisões preventivas requeridas à Justiça.

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