São Paulo, sábado, 3 de maio de 1997
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Brasil brilhou nos anos 60

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Embora tenha sumido da competição nos últimos nove anos, o Brasil sempre teve uma presença forte em Cannes, especialmente se comparada com a de outros países do Terceiro Mundo.
Além da Palma de Ouro conquistada em 1962 por "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte, o cinema brasileiro faturou prêmios importantes com "O Cangaceiro", "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", de Glauber Rocha, e "Eu Sei que Vou Te Amar", de Arnaldo Jabor (leia quadro nesta página).
Filmes brasileiros estiveram em competição em 25 das 50 edições do festival.
Já na terceira edição, em 1949, havia um brasileiro competindo, o obscuro longa-metragem "Sertão", de João Martim.
A participação brasileira atingiu seu auge nos anos 60, época de predomínio do cinema novo. Naquela década, o país só não teve concorrente em 1963 (levando-se em conta que em 1968 o festival não se realizou).
O cineasta brasileiro que mais participou da competição foi Glauber Rocha: quatro vezes, uma delas com um curta-metragem ("Di").
Cacá Diegues e Nelson Pereira dos Santos competiram três vezes cada.
Concorreram duas vezes Lima Barreto, Arnaldo Jabor, Walter Hugo Khouri e Adolfo Celi (italiano radicado nos anos 50 no Brasil).
"Orfeu"
Além dos filmes relacionados no quadro desta página, foram premiados em Cannes dois filmes realizados no Brasil, mas considerados produções estrangeiras.
São eles o francês "Orfeu do Carnaval" (Palma de Ouro de 1959), de Marcel Camus, e a co-produção Brasil-EUA "O Beijo da Mulher Aranha", de Hector Babenco, prêmio de melhor ator para William Hurt em 1985.
Também nas mais importantes mostras não-competitivas do festival, como a Quinzena dos Realizadores e a Semana da Crítica, o Brasil teve uma participação constante e significativa até meados dos anos 80.
Para se ter uma idéia, em 1969, primeiro ano da Quinzena, o Brasil compareceu com nada menos que oito longas-metragens.
Os filmes que participam da Quinzena dos Realizadores são selecionados pelos próprios realizadores, representados na Sociedade dos Autores e Produtores da França.
Mudança de perfil
Para Avellar, a queda da participação brasileira no festival, nos últimos 15 anos, reflete, por um lado, a própria diminuição da produção brasileira no período, e por outro a mudança do perfil do festival.
"Mudou a relação de Cannes com a economia cinematográfica internacional", resume o crítico. "Hoje sua seleção reflete a preocupação do cinema europeu de se defender do cinema americano."
Além disso, segundo Avellar, o festival cresceu muito como evento de mídia nos últimos anos.
"Antes, era um acontecimento que interessava mais à imprensa escrita, à crítica, aos próprios realizadores. Hoje, é cada vez mais um evento voltado para a televisão."

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