São Paulo, sábado, 3 de maio de 1997
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Sintoma só surgiu na semana passada

DA REPORTAGEM LOCAL

A causa da morte de Paulo Freire foi uma parada cardíaca sofrida na manhã de ontem, às 6h53, em decorrência de um infarto agudo do miocárdio, na noite anterior.
Freire, que fumou durante 40 anos e não fumava desde 1978, tinha histórico de hipertensão (pressão alta), mas nunca havia manifestado sintomas de doenças cardíacas.
"Foi uma surpresa para a família", disse ontem o ministro da Cultura, Francisco Weffort, genro e amigo de Freire, no hospital Albert Einstein, no Morumbi (zona oeste de São Paulo), .
Os primeiros sintomas começaram no final da semana passada. O educador começou a se queixar de dores no peito e procurou auxílio médico no hospital Sírio Libanês.
Foi atendido pela médica Maristela Camargo Monachini e submetido a uma cintilografia. "No primeiro momento, tentamos evitar o cateterismo devido à idade relativamente avançada do paciente", disse Maristela.
O cateterismo consiste na introdução de uma espécie de tubo, o cateter, na artéria do paciente.
Já a cintilografia pode ser feita com uma injeção de um líquido na corrente sanguínea. Os dois exames servem para detectar obstruções no sistema circulatório.
Segundo a médica, nada de anormal foi detectado com a cintilografia. Freire foi medicado com vasodilatadores e teve alta.
Na quarta-feira à noite, o educador voltou a sentir as dores no peito. Avisada, a médica marcou o exame de cateterismo para a manhã seguinte no hospital Albert Einstein.
"Nesse exame, detectamos obstruções parciais na artéria coronária direita e em outros dois ramos marginais (menores) do coração", disse a médica.
Em seguida, Freire foi submetido a uma angioplastia, procedimento para a desobstrução de vasos sanguíneos. "Foi um sucesso. Os sintomas (dores) regrediram e ele passou todo o dia de ontem (anteontem) muito bem."
"Na quinta-feira (anteontem), ele parecia bem melhor. Chegou a brincar dizendo que era nordestino, cabra-macho, e que aquilo não era nada para ele", disse a secretária de Freire, Lilian Contrera.
"Ele disse que não poderia morrer agora, porque queria ver o século 21", relatou Weffort.
No início da noite, por volta das 20h, as dores voltaram. Segundo a médica Maristela, na ocasião houve entupimento total de um dos vasos sanguíneos menores que haviam sido submetidos à angioplastia. "Foi um pequeno infarto."
Freire voltou a ser medicado e a situação parecia contornada.
Na madrugada de ontem, no entanto, o educador apresentou arritmia cardíaca grave -descompasso dos batimentos do coração. A causa da arritmia foi a falta de oxigenação em parte do coração decorrente do infarto.
Às 6h53, segundo boletim médico do hospital, Freire teve parada cardíaca.
Uma equipe médica tentou, por uma hora, reanimar seu coração, por meio de cargas elétricas aplicadas sobre o músculo cardíaco, sem sucesso.

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