São Paulo, sábado, 3 de maio de 1997
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De folga, PM dá tiro na boca de estudante

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O soldado da PM do Distrito Federal Antônio Vantuir Clemente de Souza, 23, baleou com um tiro na boca a estudante Edna Leocádio, 19, na noite de quarta-feira.
O policial militar estava de folga e disparou contra a estudante porque ela e seus amigos riram quando o carro onde estava Souza caiu num buraco e parou.
Edna foi atingida no lado esquerdo da bochecha. A bala atravessou sua boca e saiu cerca de 2 cm abaixo de seu ouvido direito.
Segundo o médico Paulo Étienne, que a atendeu, ela fraturou o côndilo, osso que faz parte da mandíbula, logo abaixo do ouvido. A estudante deve ficar internada por uma semana para que seu rosto desinche e seja avaliada a necessidade de uma cirurgia.
Bêbados
Edna conversava com amigos a duas quadras de sua casa em Santa Maria, cidade-satélite a 40 km de Brasília, quando viu o carro cair no buraco. Além de Souza, estavam no carro mais três PMs e a namorada de um deles.
Segundo ela, todos vestiam bermudas e camisetas e estavam em um carro "civil".
Edna contou que Souza ficou irritado com a gozação e desceu do carro mandando que os jovens encostassem na parede e botassem as mãos na cabeça.
"Eu estava segurando meus livros e, para obedecer, coloquei-os no chão. Quando eu estava levantando ele atirou", disse ela.
Patrícia de Jesus, 24, uma das amigas que estava com Edna, afirmou que os ocupantes do carro estavam bêbados.
"Cara, você deu um tiro na menina!", teria dito um dos PMs ao ver a cena, segundo Patrícia. "Eles estavam doidões", completou.
As testemunhas contaram que, ao ver o ferimento de Edna, o próprio Souza se encarregou de levá-la ao hospital.
Edna contou que a todo momento ele perguntava se ela sabia quem a havia atingido. Ela negou que soubesse, mas, ao chegar ao hospital denunciou o agressor.
O policial civil que estava de plantão no local viu quando Souza jogou fora a cápsula disparada. Ele foi preso em flagrante e levado ao 33º Distrito Policial, onde foi indiciado por tentativa de homicídio.
Na delegacia, o PM argumentou que o disparo foi acidental. O delegado Cícero Antônio de Araújo, porém, afastou a hipótese. "Não aceito essa tese. As circunstâncias não apontam para um acidente."
Souza está preso no 3º Batalhão (Asa Norte) e vai ser julgado pela Justiça comum. A Polícia Civil tem prazo de dez dias para apresentar o inquérito à Justiça.

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