São Paulo, sábado, 3 de maio de 1997 |
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Conheça 'As Fadas', de Perrault
CHARLES PERRAULT
Mãe e filha eram tão desagradáveis e orgulhosas que ninguém as suportava. A filha mais nova, que era o retrato do pai, pela doçura e pela educação, era, ainda por cima, a mais linda moça que já se viu. Como queremos bem, naturalmente, a quem se parece conosco, essa mãe era louca pela filha mais velha. E tinha, ao mesmo tempo, uma tremenda antipatia pela mais nova, que comia na cozinha e trabalhava sem parar. Tinha a pobrezinha, entre outras coisas, de ir, duas vezes por dia, buscar água a meia légua de casa, com uma enorme moringa, que voltava cheia. Um dia, nessa fonte, lhe apareceu uma pobre mulher, pedindo água: - Pois não, boa senhora -disse a linda moça. E, enxaguando a moringa, tirou água da mais bela parte da fonte, dando-lhe de beber com as próprias mãos, para auxiliá-la. A boa mulher bebeu e disse: - Você é tão bonita, tão boa, tão educada, que não posso deixar de lhe dar um dom (na verdade, essa mulher era uma fada, que tinha tomado a forma de uma pobre camponesa para ver até onde ia a educação daquela jovem). - A cada palavra que falar -continuou a fada-, de sua boca sairão uma flor ou uma pedra preciosa. Quando a linda moça chegou a casa, a mãe reclamou da demora. - Peço-lhe perdão, minha mãe -disse a pobrezinha-, por ter demorado tanto. E, dizendo essas palavras, saíram-lhe da boca duas rosas, duas pérolas e dois enormes diamantes. - O que é isso? -disse a mãe espantada-, acho que estou vendo pérolas e diamantes saindo da sua boca. De onde é que vem isso, filha? (Era a primeira vez que a chamava de filha.) A pobre menina contou-lhe honestamente tudo o que tinha acontecido, não sem pôr para fora uma infinidade de diamantes. - Nossa! -disse a mãe-, tenho de mandar minha filha até a fonte. - Fanchon, venha cá, venha ver o que está saindo da boca de sua irmã quando ela fala; quer ter o mesmo dom? Pois basta ir à fonte, e, quando uma pobre mulher lhe pedir água, atenda-a educadamente. - Só me faltava essa! -respondeu a mal-educada- Ter de ir até a fonte! - Estou mandando que você vá -retrucou a mãe-, e já. Ela foi, mas reclamando. Levou o mais bonito jarro de prata da casa. Mal chegou à fonte, viu sair do bosque uma dama magnificamente vestida, que veio lhe pedir água. Era a mesma fada que tinha aparecido para a irmã, mas que surgia agora disfarçada de princesa, para ver até onde ia a educação daquela moça. - Será que foi para lhe dar de beber que eu vim aqui? -disse a grosseira e orgulhosa. - Se foi, tenho até um jarro de prata para a madame! Tome, beba no jarro, se quiser. - Você é muito mal-educada -disse a fada, sem ficar brava. - Pois muito bem! Já que é tão pouco cortês, seu dom será o de soltar pela boca, a cada palavra que disser, uma cobra ou um sapo. Quando a mãe a viu chegar, logo lhe disse: - E então, filha? - Então, mãe! -respondeu a mal-educada, soltando pela boca duas cobras e dois sapos. - Meu Deus! -gritou a mãe-, o que é isso? A culpa é da sua irmã, ela me paga. E imediatamente ela foi atrás da mais nova para espancá-la. A pobrezinha fugiu e foi se esconder na floresta mais próxima. O filho do rei, que estava voltando da caça, encontrou-a e, vendo como era linda, perguntou-lhe o que fazia ali tão sozinha e por que estava chorando. - Ai de mim, senhor, foi minha mãe que me expulsou de casa. O filho do rei, vendo sair de sua boca cinco ou seis pérolas e outros tantos diamantes, pediu-lhe que lhe dissesse de onde vinha aquilo. Ela lhe contou toda a sua aventura. O filho do rei apaixonou-se por ela e, considerando que tal dom valia mais do que qualquer dote, levou-a ao palácio do rei, seu pai, onde se casou com ela. Quanto à irmã, a mãe ficou tão irada contra ela que a expulsou de casa. E a infeliz, depois de muito andar sem encontrar ninguém que a abrigasse, acabou morrendo num canto do bosque. Texto Anterior: A invenção dos contos de fada Próximo Texto: Aquário interativo diverte e ensina Índice |
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