São Paulo, sábado, 3 de maio de 1997
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A nova miss Grã-Bretanha

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A vitória do trabalhista Tony Blair nas eleições britânicas de anteontem não tira a validade do slogan que ele próprio usou na campanha: "O Reino Unido merece mais".
Merecia mais do que o governo conservador de John Major e merece mais do que as platitudes que Blair usou como arma para fugir dos grandes temas e, assim, ganhar a eleição, apostando apenas na fadiga do eleitorado com 18 anos de conservadorismo.
Aliás, o eleitorado do mundo todo merece mais do que lhe tem sido oferecido nas campanhas eleitorais mais recentes.
Pode ser romantismo fora de época, mas não consigo me conformar com campanhas que parecem mais um concurso de beleza.
Ganha não necessariamente quem tem o rosto mais bonito ou a plástica mais exuberante, mas quem cria os slogans mais inteligentes, os outdoors mais atraentes ou, o que é pior, quem consegue fugir dos grandes debates sem parecer covarde.
Na Grã-Bretanha, a questão central é ou deveria ser a seguinte: as políticas ditas neoliberais aumentam ou não a exclusão social? Ou, então, a sua contraface: é possível fazer políticas sociais que reduzam a exclusão sem, ao mesmo tempo, desorganizar as contas públicas?
São questões hoje universais, mas a Grã-Bretanha seria o local ideal para oferecer respostas mais consistentes, posto que o liberalismo teve um reinado longo o suficiente para permitir uma visão de pelo menos médio prazo sobre os efeitos de tais políticas.
Perdida a oportunidade, ficou apenas uma lição de pragmatismo político de Tony Blair que as esquerdas brasileiras podem eventualmente utilizar. Contestando as acusações de que os trabalhistas abandonaram os pobres para cativar a classe média e ganhar a eleição, Blair respondeu:
"Só ampliando nossa mensagem poderemos ganhar as eleições. E só ganhando as eleições poderemos fazer algo pelos pobres".

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