São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Lula quer tempo e Tarso Genro tem pressa

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Inácio Lula da Silva quer muito tempo para pensar. Tarso Genro exige pressa. Os dois possíveis candidatos do PT à Presidência da República em 98 divergem no calendário e sobre como fazer uma campanha contra Fernando Henrique Cardoso.
A discordância entre as estrelas petistas deve ser resolvida nos próximos dias, já que Genro anunciou que só aceitará uma eventual candidatura presidencial se for ungido até agosto. Prefere que o anúncio se dê até o final do mês.
Genro não diz publicamente, mas tem a mesma desconfiança de muitos no PT: acha que Lula tende a ser candidato, mas prefere esperar por uma sonhada queda na popularidade de FHC. Daí a exigência de Lula para esperar até dezembro.
Outro setor do PT analisa a hesitação de Lula voltado para o futuro do partido. Por esse raciocínio, Lula teme que um eventual sucesso de Genro na disputa presidencial (que, no caso, seria uma votação em torno de 20%) represente uma revolução no partido, que não teria mais o sotaque sindical nem lugar para a burocracia que hoje domina a legenda.
Pragmatismo
O bastidor petista também comporta outra curiosa inversão de papéis. Pragmático, o ex-prefeito de Porto Alegre, conhecido por suas posições moderadas, prega que as alianças petistas para 98 sejam confinadas à esquerda.
O discurso tem lógica interna: Genro, que já é quase um candidato consensual na hipótese de Lula refugar, precisa aparar as últimas arestas dos ortodoxos que temem uma campanha light.
Lula, escaldado em duas derrotas na corrida ao Planalto, condiciona uma candidatura ao veto aos "sem voto" que costumam concorrer pelo PT aos governos estaduais. Teme uma "puxada para baixo" na eleição simultânea para presidente e governadores.
Por isso, Lula defende a ampliação das alianças petistas e critica o purismo tradicional do partido, que agora é personificado pelo moderado Genro. "No PT todo mundo apóia aliança política, mas pensando que vai ser feita no estado do outro", diz.
Nos próximos dias, Lula e Genro vão cumprir juntos uma agenda no Chile.
Lá, podem definir o imbroglio que já é tema quase que único das conversas petistas.
Amigos de Lula têm sido consultados por ele sobre a conveniência de uma terceira candidatura presidencial. Os conselhos apontam para o sim e o não na mesma direção.
Genro quer a definição rápida também para, se Lula aceitar a candidatura, ter tempo para ainda concorrer com Olivio Dutra pela indicação do nome que vai disputar o governo gaúcho em 98.

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