São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Psicologia na cadeia reduz motins a zero

JOÃO PAULO SOARES
DA FOLHA CAMPINAS

Diretores de dois dos principais presídios da região de Campinas (99 km de SP) estão aplicando conceitos de psicologia com os presos para diminuir a ocorrência de fugas e rebeliões.
Em Hortolândia, a Casa de Detenção vive a experiência, pioneira e única no Estado de São Paulo, de ter um psicólogo no comando.
Thomaz Celidonio, 38, é diretor do presídio desde outubro de 95 e, com o uso de métodos de psicologia comportamental, reduziu a zero o número de fugas e rebeliões no ano passado.
Já a Cadeia do São Bernardo, em Campinas, é dirigida pelo advogado Fernando José Tomazella, 35, que tem aplicado técnicas de terapia ocupacional para igualmente desestimular fugas e motins.
A cadeia não registra fugas há oito meses, segundo Tomazella.
Entre as atividades desenvolvidas no São Bernardo, a mais recente é a "Maratona Literária", um concurso de contos e poesias do qual participam 18 presos.
Os trabalhos ficaram prontos na semana passada e serão publicados em um livro. Com a obra, o diretor pretende traçar um perfil social e psicológico dos autores.
"Trabalhos como esse despertam o emocional e a sensibilidade dos internos, deixando-os menos agressivos", disse.
Para Celidonio, de Hortolândia, o principal é resgatar a dignidade do preso, fazendo com que seus valores e direitos prevaleçam.
"Tem de fazer valer os direitos, porque o maior perigo é o preso ter a fantasia de que está esquecido, que ninguém olha por ele", disse.
O psicólogo assumiu a Casa de Detenção quatro meses depois de o presídio viver a rebelião mais violenta já ocorrida na região.
O motim, em junho de 95, durou dois dias, teve 23 reféns e terminou com seis mortos, entre eles o então diretor de disciplina Sebastião Martins Silveira.
"A rebelião deixou todo mundo traumatizado. Os funcionários entraram em pânico e durante meses se recusavam a trabalhar. Acho que me escolheram porque precisavam de alguém mais sensível."
Para o diretor da Cadeia do São Bernanrdo, Fernando José Tomazella, as atividades promovidas no presídio fazem com que os internos se sintam valorizados e estimulados a se recuperar. Além das atividades eventuais, a cadeia conta com cursos de 1° grau e torneios de futebol.

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