São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Seleção do Zaire convoca brasileiro

MARCILIO KIMURA
DA REPORTAGEM LOCAL

O treinador cearense Célio Barros, 61, deixou o rico Oriente Médio, onde era assistente-técnico de Parreira na seleção do Kuwait, e decidiu arriscar a carreira no atípico futebol africano.
Ano passado, em sua primeira temporada, levou o Vita Club ao título zairense e à terceira colocação na Copa da África.
"As pessoas não gostavam de andar comigo de tanto que eu era abordado nas ruas", diz, contando a popularidade que conquistou.
O sucesso lhe valeu convite para dirigir a seleção do país, chamada de "Le Leopard" (o leão).
O Zaire está na última posição do Grupo 3 das eliminatórias africanas, liderado pelo Congo e pela África do Sul.
"Ainda não decidi se aceito a proposta. Além do acordo financeiro, exijo um grupo totalmente à minha disposição", afirma.
Amadores
No Zaire, o futebol não é profissionalizado. Praticamente todos os jogadores possuem outras atividades para complementar um salário médio de US$ 50,00.
A preparação de uma equipe campeã, no entanto, não se limita ao gramado e aos treinos físicos.
"Tive que introduzir hábitos higiênicos e ensinar métodos para manter a forma física", conta.
Uma das queixas do treinador é quanto à desorganização africana.
"As obrigações ficam sempre para amanhã. Os dirigentes não são sérios como aqui no Brasil."
Barros recebia US$ 7.000 mensais, mais moradia, um carro e um guarda-costas.
O Vita Club deve ao técnico os seis últimos salários e as diárias do hotel onde morava.
"Gosto muito de lá, mas preciso sobreviver. Só volto com o dinheiro na minha conta."
Na Copa da África, o técnico lembra que a delegação saía quatro dias antes da partida, marcada em outro país, e só chegava no dia do jogo, viajando de avião.
"Os diretores compravam pacotes tão baratos que pegávamos quatro aviões. Chegávamos de manhã e jogávamos de tarde."
Fuga
Além da inadimplência dos diretores do clube, Barros voltou ao Rio de Janeiro, onde têm residência, fugindo da guerra civil.
Os guerrilheiros da Aliança de Forças Democráticas para a Libertação do Congo-Zaire tomaram em abril Zubumbashi, segunda cidade e centro econômico do país.
Eles exigem a renúncia do ditador Mobutu Sese Seko, que está no poder desde 1965. Caso contrário, prometeram ampliar os ataques.
"Estou esperando os tiros pararem para tomar uma decisão."
No Zaire, os dois principais clubes, o Vita Club e o DCMP, são presididos por filhos de Mobutu.

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