São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Mandela é o maior promotor da paz na África

BRENDAN BOYLE
DA "REUTER", NA ÁFRICA DO SUL

O presidente Nelson Mandela teve sucessos e fracassos desde que saiu de uma prisão, em 1990, para liderar a transição da África do Sul do apartheid para a democracia.
Ele se tornou o principal promotor da paz na África. Atualmente está empenhado em conseguir um encontro entre os líderes rivais do Zaire num navio sul-africano.
Essa é a mais recente de uma série de iniciativas diplomáticas, que se baseiam mais na autoridade moral de Mandela do que em seu poder real.
O presidente sul-africano participou de missões de paz em Angola, Argélia, Lesoto, Suazilâmdia, Burundi, Zaire, Nigéria e Sudão.
Mas apenas no Lesoto pode-se dizer que ele teve um sucesso inequívoco. Naquele minúsculo Estado soberano encravado no território da África do Sul, Mandela conseguiu reverter um golpe do rei e impedir que os militares tomassem o poder.
Segundo disse um um diplomata ocidental à "Reuter", a comunidade internacional tinha esperança de que Mandela conseguisse mudar o rumo da África, em direção à estabilidade, democracia e crescimento econômico.
Mas, apesar de sua enorme estatura moral, faltam a Mandela a experiência e o know-how. É que ele passou 27 anos na cadeia, perdendo a fase mais decisiva da descolonização africana.
"O presidente Mandela sempre está do lado certo, mas ele às vezes é ingênuo e não é imune a besteiras," disse o diplomata.
Nova iniciativa
Mandela pôs a sua credibilidade pessoal em jogo anteontem, ao voar para o Congo e escoltar o desnorteado presidente Mobutu Sese Seke ao primeiro encontro com o líder rebelde Laurent Kabila.
Ele enviou o vice-presidente, Thabo Mbeki, para acompanhar Kabila até o navio, que navegava no litoral do Atlântico.
O encontro ainda não se realizou. Mas se Mobutu e Kabila chegarem a algum acordo para a democratização do Zaire, Mandela, de 78 anos, terá obtido o seu maior triunfo desde a transição pacífica do seu próprio país, do governo da maioria branca para a democracia, há três anos.
O pior fracasso de Mandela em sua política de pacificação foi a execução do ativista civil nigeriano Ken Saro-Wiwa e oito seguidores, em 1995.
Mandela se empenhou pessoalmente em salvar a vida de Saro-Wiwa e negociar a redemocratização da Nigéria.
Frustrado com a intransigência do governo militar da Nigéria, também não conseguiu convencer os Estados Unidos e a Europa a adotarem sanções econômicas contra o general Sani Abacha.
No ano passado, Mandela tentou mediar a paz na conturbada Argélia. Mas o presidente Liamine Zéroual não aceitou a política de Mandela, de ouvir todos os lados, que o levou a se reunir com o líder radical Anuar Haddam.
Vizinhos
Desde então, Mandela vem concentrando seus esforços de paz na Comunidade de Desenvolvimento do Sul da África, uma organização que congrega a África do Sul e seus vizinhos.
Ele procura agir através da ONU ou em colaboração com a Organização da Unidade Africana.
Segundo um assessor do presidente, "o governo sul-africano participa de várias iniciativas de paz na África, todas alinhadas com a preocupação de Mandela de encontrar soluções africanas para os problemas africanos".

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