São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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Cresce o número de meninas grávidas

CRISTIANE YAMAZATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Relacionamentos precoces que logo levam à transa e a erotização dos meios de comunicação são algumas das razões do aumento no Brasil de adolescentes grávidas, conforme mostram as duas tabelas acima.
Essa é a opinião de Rosa Maria Carneiro, chefe do serviço da Assistência ao Adolescente do Ministério da Saúde.
"Há que se acrescentar também a falta de conhecimento de métodos contraceptivos e a questão cultural nas zonas rurais, onde é comum as meninas casarem mais cedo", afirma.
Rosa se baseia em outros dados, levantados pela PNDS (Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde) em 96. Eles revelam que 54,4% das meninas de 15 a 19 anos sem escolarização já haviam ficado grávidas. Ao passo que entre as meninas com pelo menos nove anos de estudo a porcentagem é de 6,4%.
Além disso, também de acordo com a PNDS, a porcentagem de meninas grávidas da zona rural, entre 15 e 19 anos, é de 20% contra 13% da zona urbana.
"O aumento da liberdade sexual e a erotização da mídia são fenômenos que estão aí. A TV vive exibindo cenas de sexo. Nas novelas, as jovens grávidas geralmente terminam felizes e bem-aceitas. Isso estimula os adolescentes", diz.
Rosa alerta ainda para os riscos de uma gravidez antes do tempo. "Biologicamente, as adolescentes são imaturas. Para desenvolver uma gravidez, elas precisam ganhar peso, até mesmo as meninas bem nutridas."
Como o Brasil é um país onde muita gente passa fome, a possibilidade de um aumento no índice de mortalidade infantil aumenta consideravelmente.
Além das causas apontadas pelo Ministério da Saúde, a ginecologista Albertina Duarte Takeuti, coordenadora do Programa do Adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, aponta mais um motivo que não está relacionado à falta de informação nem à erotização da mídia.
Segundo a médica, o aumento do número de adolescentes grávidas é um fenômeno mundial. "Mesmo os países desenvolvidos, que incluem em seu currículo escolar a educação sexual, estão revendo seus programas para ver onde estão falhando."
Toda a reflexão sobre o assunto é para tentar descobrir por que os adolescentes que conhecem os métodos contraceptivos não colocam na prática o que sabem na hora de transar.
"O que se nota é que há uma distância entre o que os adolescentes pensam e o que fazem na hora H. Acaba parecendo que quanto mais informação eles têm, mais atrapalhados eles ficam."
A médica ressalta que é preciso levar em consideração as cobranças sociais que um adolescente de hoje tem de enfrentar. É como se houvesse um preço pelo fácil acesso a muita informação.
Em troca desse bombardeio de imagens e informações, é preciso provar que é bom nos estudos, no trabalho e também no desempenho sexual. "Com medo de não agradar ou falhar, muitos acabam esquecendo a camisinha", diz.
Albertina acrescenta que o jovem nutre a falsa ilusão de que nada de errado ou indesejado irá acontecer com eles. "É comum um jovem dizer: 'Isso não vai acontecer comigo'. O problema é que, mais cedo ou mais tarde, a gravidez acaba acontecendo."

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