São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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Valery Albrick aprova versão de Barreto

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

A polêmica em torno do filme "O Que é Isso, Companheiro?", do cineasta Bruno Barreto, não surpreendeu Valery Elbrick, filha do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em torno de quem gira a história.
Em entrevista à Folha, por telefone, de sua casa em Bethesda, cidade próxima a Washington (EUA), Valery disse "entender o desconforto" de Vera Sílvia Magalhães, 49, uma das envolvidas no sequestro de seu pai em setembro de 1969.
"Sei que é difícil, para quem foi torturado, aceitar a visão humanizada do torturador, mas essa é a história de Bruno Barreto e temos que respeitá-la", disse Valery, referindo-se à crítica de Vera Sílvia com relação ao personagem interpretado pelo ator Marco Ricca.
A filha do embaixador norte-americano disse já ter visto o filme duas vezes. Da primeira vez, numa sessão especial em Nova York, preocupou-se em observar os detalhes.
"Observei como tinham retratado meu pai, de que maneira a história conferia com o que meu pai havia me contado", disse.
Para Valery, o personagem criado pelo ator Alan Arkin (que interpreta Elbrick no filme) não é muito parecido com seu pai. "Mas isso não me incomoda. Sei que há incorreções, mas estou feliz por alguém ter resolvido contar essa história, seja de que maneira for".
Na segunda vez, no Festival de Cinema de Berlim, disse ter se preocupado em "ver tudo como um filme de ficção". Sob esse ponto de vista, afirmou ter gostado muito do que viu.
"Bruno não fez um documentário e é isso que as pessoas precisam levar em conta. Ele fez um belo filme de ficção. E qualquer pessoa que se atrevesse a contar essa história, mesmo que fizesse um trabalho perfeito, receberia críticas dos outros envolvidos", disse.
Para Valery Elbrick, o filme deve agradar ao público norte-americano. "As primeiras cenas, que mostram o que acontecia no Brasil no final dos anos 60, foram uma grata surpresa para mim. Nós, americanos, não temos idéia do que acontecia no Brasil naquele período", disse.
Desde que esteve no Brasil, no ano passado, acompanhando as filmagens, Valery tentou se aproximar dos sequestradores de seu pai. Encontrou Fernando Gabeira, autor do livro que inspirou o filme, e os dois ficaram amigos, mas não conseguiu conhecer os outros participantes da ação.
"Falo sempre com Gabeira, me sinto ligada a ele. E apesar de não ter conseguido conversar com os outros, admiro a todos. Sei que tinham seus motivos para fazer o que fizeram e sei que trataram meu pai de maneira respeitosa", disse.

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