São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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Linguagem de 'Comédia' beira rococó high tech

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

O primeiro episódio da "Comédia da Vida Privada" da temporada 97 foi ao ar na última terça-feira. "O que você quer ser quando crescer?" desenvolve uma nova densidade na linha geral de humor irreverente combinado com inovação formal consolidada nas temporadas anteriores.
O núcleo Guel Arraes da Rede Globo, responsável pelos programas da "Terça Nobre", concentra os esforços inovadores da emissora com produções herdeiras de experiências que incluem desde novelas até "Armação Ilimitada".
A trajetória do dirigente do núcleo demonstra ousadia para pensar novas linguagens e abertura para processar o trabalho de diretores e roteiristas oriundos do vídeo independente.
O roteiro de Jorge Furtado e Luís Fernando Veríssimo conta a história da tensão adolescente nos momentos que precedem o vestibular. O programa aproveita a matéria da prova e a sensualidade no envolvimento entre os personagens para produzir digressões que incluem por exemplo ilustrações abstratas de poemas parnasianos.
"O que você quer ser quando crescer?" foi dirigido por Fernando Meirelles, ex-"Olhar Eletrônico", um dos criadores do "Rá-Tim-Bum", e atual publicitário da O2. O inquieto diretor já havia ensaiado parceria com a Globo para dirigir uma minissérie baseada em "Mar Morto". Mas o projeto acabou engavetado.
Os figurinos são de Marjorie Gueller, a maquiagem de Anna Van Steen e a fotografia de César Charlone, uma equipe de cinema e publicidade, que agora experimenta em TV. O resultado está por exemplo nos cabelos rastafári de Fábio Assunção.
O episódio, menos estridente do que outros, explorou particularmente a disjunção entre imagem e diálogo. O diretor privilegiou enquadramentos e efeitos que procuram acentuar as idéias sugeridas pelo roteiro, como nas sequências em que os personagens regridem à infância e aparecem pequenos nas roupas enormes e nos cenários gigantes, iluminados por uma luz branca estourada em um clima de "Alice no País das Maravilhas".
O ritmo arrastado e repetitivo do plano e contraplano, praga das novelas, em que câmera e edição são escravas do que se diz em cena, está aqui definitivamente enterrado.
"A Comédia da Vida Privada" vem criando uma TV distante da linguagem clássica para tratar de temas que não deixam de ser clássicos. O trabalho é hipercarregado de intervenções visuais. O excesso de informações exige intensidade de leitura e beira algo como um rococó high tech.

E-mail ehamb@uol.com.br

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