São Paulo, terça-feira, 6 de maio de 1997
Próximo Texto | Índice

Kabila quer 'caçar e humilhar' Mobutu

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O líder rebelde do Zaire, Laurent Kabila, deu um novo ultimato a seu inimigo, o presidente do país. Disse que se não receber o governo em dois ou três dias vai "caçar e humilhar" Mobutu Sese Seko.
Kabila disse que está a 60 km do aeroporto de Kinshasa, a capital do país, e deve entrar na cidade em dois ou três dias. O aeroporto dista 25 km do centro. "Se Mobutu renunciar antes de entrarmos em Kinshasa, eu garanto sua segurança e a de sua família biológica. Mas, se não, vamos caçá-lo e humilhá-lo", disse Kabila.
Não há mais dúvidas de que a vitória de Kabila é questão de tempo. O negociador americano, Bill Richardson, disse que sua principal missão agora é evitar um banho de sangue quando os homens de Kabila entrarem na cidade, que tem 5 milhões de habitantes.
As novas ameaças de Kabila acontecem um dia depois do mal-sucedido encontro a bordo de um navio sul-africano, no domingo. Kabila exigia que Mobutu lhe entregasse o poder; Mobutu aceitou apenas passar o governo a um sucessor eleito. Não houve acordo.
A Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo-Zaire já controla três quartos do país. É uma ofensiva impressionante, pois, no começo do ano, os guerrilheiros estavam restritos apenas ao leste do Zaire.
A principal justificativa para um avanço tão grande em poucos meses é a escassa resistência que Kabila enfrenta. Nas últimas semanas, a guerrilha nunca teve de lutar mais do que poucas horas para tomar alguma cidade.
Apesar da proximidade dos rebeldes, não havia controle militar extra na capital zairense, ontem.
Segundo Kabila, a maioria dos generais das Forças Armadas está a seu lado. "Neste momento, Mobutu está cercado por seu próprio Exército", disse o líder rebelde, um veterano guerrilheiro esquerdista da África.
O clima ontem em Kinshasa era calmo, apesar da frustração pelo fracasso das negociações no navio sul-africano SAS Outeniqua, que recebeu os líderes zairenses no litoral do vizinho Congo.
"Mobutu é um leopardo cansado, ao redor do qual antílopes, ovelhas, cabras e animais de toda espécie se movem livremente, sem medo", comparou Tshidibi Ngodavi, articulista do jornal opositor "Le Potentiel". O leopardo é associado a Mobutu porque ele sempre aparece em público usando um barrete feito com a pele daquele felino.
Refugiados
As Nações Unidas disseram ontem que a falta de coordenação entre seus funcionários causou o tumulto em um trem que matou cerca de cem refugiados.
O trem levava refugiados de etnia hutu de um campo para a cidade de Kisangani (leste), onde aviões os transportariam para Ruanda, seu país natal. Autoridades da ONU disseram que militares locais ordenaram a partida do trem, superlotado, sem o aval da ONU.

Próximo Texto: Portugal já acertou saída
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.