São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997 |
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Fundo Soros vê 'tragicomédia'
CLÓVIS ROSSI
Essa avaliação foi obtida ontem pela Folha junto ao Fundo, que será dono de US$ 100 milhões em ações da Vale, se e quando o leilão for validado na Justiça. Mas, exatamente por ter ficado no limite entre a tragédia e a comédia, a batalha judicial não deverá provocar maiores estragos nas perspectivas de investimentos externos em futuras privatizações, sempre na avaliação do grupo. Prejuízo maior virá, ainda segundo o apurado pela Folha, se o Congresso não aprovar as reformas constitucionais ora em tramitação (administrativa e previdenciária) ou se elas forem excessivamente desfiguradas. "As reformas são mais importantes do que o ruído em torno da Vale", calcula-se nos escritórios de George Soros, um megainvestidor (ou megaespeculador, como preferem críticos) de origem húngara e cidadania norte-americana. A explicação para dar maior importância às reformas é de livro-texto de economia: "Com um governo que despoupa, o país está condenado a não crescer". Ou seja, com o déficit nas contas públicas, o governo não tem dinheiro para investir e, ainda por cima, suga recursos do mercado, para cobrir seus rombos, reduzindo ou encarecendo o disponível para o setor privado investir. "Ágio justo" Os analistas do Fundo Soros tinham uma percepção diferente do principal empresário do grupo que comprou a Vale (Benjamin Steinbruch). Steinbruch disse anteontem à Folha que estava disposto a pagar pela Vale até algo mais dos que R$ 32,00 que acabou investindo por ação, quase 20% acima do preço oficial mínimo. Mas, se dependesse só do pessoal de Soros, as ofertas parariam exatamente nesses R$ 32,00. "Foi um ágio justo, que é bom para o governo, mas interessante também para o investidor", é a avaliação do grupo. Sobre a batalha judicial, a avaliação dos especialistas do Fundo é a de que o Brasil vinha muito bem no campo institucional. Desde o impeachment do presidente Fernando Collor, prossegue a análise, as instituições (Executivo, Legislativo e Judiciário) funcionaram de maneira correta. "Mas, no caso da Vale, passou-se um pouco do ponto", avaliam. A crítica principal é dirigida aos que se opunham politicamente à privatização da companhia. "Agiram de má-fé", diz-se nos escritórios do Fundo Soros, por esconderem a motivação ideológica atrás de argumentos jurídicos. A crítica parece uma contradição com a recente condenação que George Soros fez ao capitalismo, equiparando-o ao comunismo por se considerarem, ambos, uma verdade científica. "De fato, George Soros acha que o liberalismo chegou a um extremo e que o capitalismo precisa de um policiamento. Mas, daí a não querer privatizar uma empresa de minérios vai uma longa distância", justifica o pessoal do Fundo. Texto Anterior: Lucro do NationsBank cresceu 26% em 96 e bateu recorde Próximo Texto: Negócios de Soros Índice |
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