São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Perícia aponta homicídio, não extorsão

JOÃO PAULO SOARES
DA FOLHA CAMPINAS

O tiro que matou o conferente Mário José Josino, em Diadema (Grande São Paulo), partiu da arma do soldado Otávio Lourenço Gambra, o Rambo, durante ação da Polícia Militar no último dia 7 de março na favela Naval.
A conclusão está no laudo do Laboratório de Fonética Forense da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), divulgado oficialmente ontem pela universidade.
A pedido da CPI da Violência Policial, da Assembléia Legislativa, os peritos da Unicamp analisaram as imagens gravadas por um cinegrafista amador na favela.
O laboratório tentou descobrir ainda se as imagens e sons indicavam prática de extorsão por parte dos PMs, mas o relatório não foi conclusivo nesse ponto.
"Não há nenhuma imagem ou som que possam caracterizar extorsão sem ambiguidade", disse o foneticista Ricardo Molina, chefe da equipe de perícia do Laboratório de Fonética.
Segundo ele, algumas cenas deixam dúvidas quanto a isso e são de difícil interpretação.
Para o presidente da CPI, deputado Carlos Sampaio (PSDB), o laudo produziu provas inéditas sobre a morte de Josino e possibilitará a responsabilização penal de Rambo por homicídio.
Sampaio acredita, no entanto, que dificilmente a CPI encontrará novos meios para provar a existência de prática extorsiva.
"Nossa esperança era que a análise das imagens chegasse a isso. Agora, ficamos na dependência de provas testemunhais", disse.
Segundo o deputado, o laudo será apresentado aos demais membros da CPI na próxima terça-feira e, posteriormente, encaminhado ao Ministério Público.
Imagens
O documento da Unicamp tem 80 páginas e 67 ilustrações, entre fotos, gráficos, imagens computadorizadas e reproduções de vídeo.
A maioria dessas ilustrações são usadas para provar que um dos tiros disparados por Rambo atingiu Josino após o conferente passar por blitz dos PMs na favela.
A cena foi filmada pelo cinegrafista amador, mas, no momento do disparo, o carro em que estava Josino sai do alcance da câmera, não sendo possível determinar, pela imagem original, se o tiro realmente atingiu o conferente.
Em depoimento à CPI, Rambo disse que atirou para o chão.
Os peritos refilmaram a cena no local dos acontecimentos, fizeram a sobreposição das imagens e, com auxílio de computação gráfica e planos cartesianos, determinaram a trajetória exata da bala.
Sampaio descartou a hipótese de chamar Rambo para novo depoimento à CPI. "O trabalho da Unicamp é prova inquestionável de que ele matou Josino", afirmou.

Texto Anterior: Soraya falava cinco línguas
Próximo Texto: Laudo deixa a CPI frustrada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.