São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
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Coquetel age sobre "fábrica" do vírus, aponta novo estudo

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A terapia contra a Aids utilizando uma combinação de três drogas pode reduzir em grande parte a quantidade do vírus HIV, causador da doença, não só no sangue, mas também nos nodos linfáticos, um dos "santuários" onde ele se esconde.
E o tratamento pode, teoricamente, levar à erradicação do vírus do organismo da pessoa infectada em cerca de três anos (leia texto acima).
Essas são duas das boas notícias na luta contra a doença que estão sendo divulgadas hoje e amanhã nas duas principais revistas científicas multidisciplinares do planeta, a americana "Science" e a britânica "Nature".
Mas como já é praxe na pesquisa da Aids, duas boas notícias são acompanhadas de uma não tão boa. Há ainda um terceiro artigo científico que revela que a doença pode ser mantida com um número pequeno do vírus, o que torna muito difícil conseguir uma cura completa.
Mesmo os autores dos artigos mais otimistas fazem questão de lembrar que ainda não se trata da cura. O vírus tem condições de permanecer latente no organismo depois de um ataque cerrado das três drogas usadas na terapia múltipla, e voltar posteriormente a causar a doença do mesmo modo como a brasa por baixo de uma fogueira adormecida pode voltar a reacendê-la.
A equipe de Ashley T. Haase, da Universidade de Minnesota (norte dos Estados Unidos), mostrou que "seis meses de terapia potente controlaram a replicação ativa e limparam 99,9% do vírus do reservatório no tecido linfóide secundário", conforme escreveram na "Science", que será publicada amanhã.
A chamada "carga viral", a medida da quantidade do HIV no sangue, é uma das maneiras de checar o comportamento da doença e se a terapia está fazendo efeito. Mas, como o vírus é produzido em células no tecido linfóide, saber se ele está sendo eliminado também nesse "santuário" é fundamental.
O vírus, ao atacar uma célula, faz com que seu material genético, RNA, seja transformado em DNA através da enzima transcriptase reversa (alvo de uma família de drogas anti-HIV).
Haase e seus colegas fizeram biópsias frequentes nas amídalas (um tipo de nodo linfático) de dez pacientes que recebiam três drogas potentes. Duas eram inibidoras da transcriptase reversa -zidovudine (AZT) e lamivudine (3TC)-, e a outra, ritonavir, ataca outra enzima vital do vírus, a protease.
Embora tenham conseguido resultados promissores, testes posteriores mostraram que ainda havia material genético do vírus nos pacientes após o tratamento, "escondido" em certas células de defesa. O problema é duplo: ainda não se consegue atacar diretamente essa célula com DNA viral escondido no seu núcleo, e mesmo uma fração minúscula delas basta para alimentar a chama da doença.

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