São Paulo, sábado, 10 de maio de 1997
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Lula abre agenda de conversa com FHC

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL AO CHILE

Luiz Inácio Lula da Silva, o líder histórico do PT, já tem na cabeça a agenda para o encontro que pretende marcar na semana que vem com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Pelo que a Folha apurou, o ponto mais delicado da conversa será o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Lula está convencido de que FHC quer derrotar o MST e vai dizer ao presidente que é, primeiro, uma arrogância e, segundo, inútil.
O líder do PT acredita que, se pudesse, FHC assentaria um milhão de trabalhadores sem terra, mas deixaria de lado os que estão acampados por iniciativa do MST.
"É bobagem. Os do MST são guerreiros e, os outros, são apenas pré-soldados", acredita Lula.
Pelo que a Folha apurou junto ao governo, o líder do PT não está equivocado na análise de que o governo quer derrotar o MST.
"Com a oposição, não adianta negociar; é preciso derrotá-la", ouviu a Folha.
Ainda assim, Lula acha que deve aceitar o convite feito por FHC.
"Não faz sentido ficar o tempo todo justificando por que não aceitei um convite do governo para conversar", raciocina.
Por isso mesmo, Lula já fez uma listagem sumária de temas que gostaria de conversar:
Emprego - Lula acha que o governo tem uma visão "maniqueísta" da política de emprego, fazendo-a depender apenas da entrada de capital externo.
Vai pedir uma política mais ativa, em especial na área de pequenas propriedades rurais.
Reforma tributária - O líder do PT acha que a carga fiscal está concentrada sobre os salários.
Acha que deveria ser deslocada para a tributação sobre a renda e o capital. Lula quer sugerir um grupo de estudos independente para elaborar proposta de reforma.
Previdência - Lula diz que o governo ficou, até agora, "obcecado" com apenas um lado da questão, o da redução de despesas.
"Jamais cogitou de aumentar a receita", acredita o líder petista.
Por isso, vai sugerir que se encontre uma fórmula pela qual os 31 milhões de trabalhadores sem carteira assinada possam contribuir.
Lula defende também a adoção de previdência complementar. Mas acha que a previdência privada não deve ser na forma dos grandes fundos de pensão, mas adotada pelas empresas para seus funcionários, como muitas já o fazem.
Privatização - Lula vai criticar junto a FHC o esquema de privatização da Vale, o que indica que ele não dá o caso como encerrado.
Por isso, proporá que as ações da Vale sejam vendidas para os trabalhadores, via FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).
Funciona assim: cada assalariado com carteira assinada tem um crédito em sua conta do FGTS.
Mas, se todos pudessem e quisessem sacar na mesma data, não haveria dinheiro suficiente para o pagamento, porque os recursos descontados em folha já foram utilizados.
Essa dívida potencial seria paga, então, com ações da Vale, democratizando o capital da empresa.
Lula não espera sair do encontro com um acordo com FHC. Mas tampouco quer sair da mesma maneira que entrou.
Por isso, amigos comuns negociam entrevista coletiva conjunta, após a reunião, para que os dois possam dar suas versões, sem que a do PT seja atropelada pelo que o partido chama de "imenso poder de fogo" do governo.

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