São Paulo, sábado, 10 de maio de 1997
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Flecha de Lima rebate professor dos EUA

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

A embaixada do Brasil em Washington está protestando contra o livro "Summitry in the Americas" ("Cúpula das Américas"), de Richard Feinberg, professor de relações internacionais da Universidade da Califórnia, em San Diego.
Na obra, Feinberg, que acompanhou a Cúpula de Miami, faz críticas ao Itamaraty e insinua que os diplomatas brasileiros atrapalharam as negociações.
"A origem das dificuldades em Miami era a luta do Brasil para se estabelecer como interlocutor da América do Sul e do Grupo do Rio", diz o professor.
Irritado, o embaixador brasileiro Paulo Tarso Flecha de Lima escreveu uma carta a Feinberg, rebatendo as críticas do norte-americano.
"Tendo tido papel ativo no processo de Miami, devo dizer que fiquei ofendido com essas distorções da realidade", escreveu o diplomata. "O primeiro impulso foi o de lhe dar uma resposta na mesma moeda, mas meu cargo oficial me impõe certas restrições."
Flecha de Lima argumenta que o fato de o Brasil ter ocupado temporariamente o secretariado do Grupo do Rio, em 1994, havia sido decidido antes de a Cúpula das Américas ser cogitada.
Ele nega que o país tenha se utilizado desta coincidência para manipular o Grupo do Rio a apoiar a agenda brasileira, que Feinberg acusa ter sido escondida.
"O Brasil nunca objetivou ser um líder regional, mas naturalmente tem sua própria agenda para assuntos do hemisfério, assim como os Estados Unidos, México, Argentina, Chile e muitos outros países têm a deles", afirmou.
"Nenhum país na região tem o privilégio de ter uma agenda ideal ou uma igualmente válida para todos os outros países", escreveu o embaixador, em indireta à postura norte-americana.
Flecha de Lima critica os comentários de Feinberg, para quem a agenda dos Estados Unidos equivale à agenda ideal.
Por fim, rebate as críticas "à visão de mundo do Itamaraty", considerada tradicional e fora da realidade pelo professor. "O Itamaraty não tem uma ideologia própria. Quando defende uma posição, pode ter certeza de que passou antes por um exaustivo processo de consultas internas."
Expectativa
O embaixador viaja ao Brasil amanhã para participar das negociações sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Apesar de esperar dificuldades nas reuniões, ele se diz otimista: "A densidade do diálogo latino-americano melhorou muito".
A Folha apurou, no entanto, que diplomatas brasileiros não acreditam que o governo norte-americano consiga o fast-track, permissão do Congresso para negociar acordos internacionais com a garantia de que não serão modificados pelo Legislativo.

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