São Paulo, sábado, 10 de maio de 1997 |
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'Puras Misturas' preenche lacuna bibliográfica
ADRIANO SCHWARTZ
O livro é uma detalhada análise de "Uma Estória de Amor - A Festa de Manuelzão", uma das sete narrativas que compõem "O Corpo de Baile", de Guimarães Rosa. Por coincidência, ele foi lançado na última quarta-feira, apenas dois dias depois da morte, aos 92 anos, de Manuelzão, protagonista do conto e o mais famoso dos "inspiradores reais" de Rosa. Em "Uma Estória de Amor", Rosa conta os preparativos e o desenrolar de uma festa -"A Festa de Manuelzão"- feita em consagração a uma capela que o vaqueiro havia construído. O título do estudo de Sandra Vasconcelos -originalmente sua tese de doutorado, defendida em 1991- foi retirado de uma lembrança do próprio Rosa: "Quando menino, no sertão de Minas, onde nasci e me criei, meus pais costumavam pagar a velhas contadeiras de estórias. Elas iam à minha casa só para contar casos. E as velhas, nas puras misturas, me contavam estórias de fadas e de vacas, de bois e reis. Adorava escutá-las". Entender a maneira pela qual essas "puras misturas" são trabalhadas no conto é o principal objetivo de Sandra Vasconcelos. No início do livro, ela analisa a trama narrativa da história e mostra a presença de um "ritmo de respiração": "Alargamento e estreitamento do foco narrativo, contraponto entre espaço aberto e fechado e passagem do tempo objetivo para o tempo subjetivo". Simultaneamente, já delineia a importância que narrativas orais -fundidas e retrabalhadas- assumem na obra, criando a possibilidade de penetração, mesmo que fugaz, em um tempo mítico. Em seguida, Vasconcelos destaca um pequeno episódio do texto, o desaparecimento de um riacho, para ver nele uma metáfora reduzida de todo o conto. Ela analisa, então, mais detidamente, a inserção das narrativas orais no texto, especialmente por meio das 'estórias' contadas por dois personagens, Joana Xaviel e Camilo, e indica como essas narrativas orais, ao mergulhar Manuelzão na tradição, fazem com que ele reencontre seu passado. A autora, por fim, mostra como Rosa utilizava os diários de viagem em sua obra e a importância que assume o seu constante resgate de um passado quase esquecido. Pouco depois de publicar "Corpo de Baile", em 1956, Rosa lançou sua obra-prima, "Grande Sertão: Veredas", o que, como lembra Vasconcelos na introdução, atrapalhou -com poucas exceções- a recepção crítica dos contos. É essa carência que a publicação de "Puras Misturas" -e de algumas poucas obras nos últimos anos- ajuda a diminuir. Livro: Puras Misturas Autora: Sandra Guardini T. Vasconcelos Lançamento: Hucitec/Fapesp Preço: R$ 20 (194 págs.) Texto Anterior: Chega ao Brasil a prosa essencial de Berberova Próximo Texto: Revista lança dossiê sobre Guimarães Rosa Índice |
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