São Paulo, sábado, 10 de maio de 1997
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O QUEBRA-CABEÇAS DO REAL

A política econômica está mudando. Discute-se agora se ela deverá mudar mais nas próximas semanas.
Qual a intensidade da contração no consumo e na produção necessária para reduzir as importações e, assim, ajudar a equilibrar as contas externas? Essa é a pergunta.
A resposta depende de uma avaliação da eficácia das medidas já adotadas para corrigir o déficit comercial.
As políticas de fomento às exportações são as de menor impacto imediato. Oferecer linhas de crédito, isentar alguns produtos de ICMS e investir na redução do "custo Brasil" são opções que levam tempo.
No curtíssimo prazo, o recurso à contração da economia continua sendo o instrumento mais à mão.
Entretanto, nesse campo, o governo tem sido cauteloso e, segundo muitas análises, tímido demais.
O exemplo mais recente é o aumento do IOF sobre o crédito ao consumo. Publicado o decreto 2.219, regulamentando a medida, viu-se que ela é menos restritiva que o esperado.
Vai assim ficando evidente que, se o governo de fato quer corrigir o déficit comercial contendo o consumo e a produção, terá de ousar mais.
Até poucas semanas, um dos principais obstáculos a um aperto mais forte era a fragilidade do sistema bancário. A síndrome do "efeito tequila", ou seja, o receio de que um aperto como o de 1995 enfraquecesse muitos bancos, era um argumento contra medidas mais duras.
O presidente do Banco Central, entretanto, acaba de anunciar o fim próximo do Proer. De fato, depois das soluções para o Nacional, o Econômico, o Bamerindus, o Banco do Brasil e mesmo o Banespa e o Banerj (ambos sob intervenção federal), o sistema bancário fortaleceu-se.
A decisão sobre adotar ou não uma tática recessiva é agora fortemente condicionada à política. E o governo joga contra o tempo, pois aproximam-se as eleições de 1998.
Juntando as peças, o quebra-cabeças do Plano Real aproxima-se cada vez mais de um desfecho recessivo.

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