São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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'Neomilitantes' acreditam em socialismo

DA REPORTAGEM LOCAL

Eles não pegam mais em armas, não assaltam bancos, nem fazem panfletagem em porta de fábrica.
Para chamar a atenção da sociedade, disputam espaço na mídia por meio de assessorias de imprensa. Para atrair os estudantes, fazem mais festas que assembléias.
Mas a maioria dos dirigentes das entidades estudantis continua se identificando com os ideais da geração que esteve ali em 1968.
Para Orlando Júnior, presidente da UNE, "mesmo com essa onda de individualismo, o sentimento do estudante que pintou a cara e foi às ruas pedir o impeachment do Collor é o mesmo do militante que pegou em armas nos anos 60".
Segundo a estimativa de Silva, os estudantes eram cerca de 40% dos que caminharam com os sem-terra, e foram os principais integrantes dos protestos contra a privatização da Vale do Rio Doce.
Para o presidente da Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), Kerison Lopes, 20, "o estudante que vai à passeata pode não estar dizendo que é contra o neoliberalismo, mas ele está mostrando que está descontente e quer mudança", diz Lopes.
O discurso da liderança para consumo interno praticamente não mudou nos últimos 30 anos. "O capitalismo é insuportável, não vai sobreviver, e a única opção é o socialismo", afirma Lopes, que é militante do PC do B.
Quem participou da luta armada dos anos 60, os estudantes de hoje estão desmobilizados politicamente e estão mais preocupados com uma carreira brilhante do que com uma sociedade mais justa.
"O jovem de hoje é muito pressionado pela necessidade de sucesso, pelo mercado de trabalho e pela necessidade de sucesso. Não pensa mais coletivamente", diz Vera Sílvia Magalhães, que também participou do sequestro do embaixador americano.
Para Paulo de Tarso Venceslau, também do grupo de sequestradores, os dirigentes de hoje cometem o mesmo erro que os dos anos 60: estão distantes da realidade.
"O engajamento político afasta as pessoas da realidade. A juventude hoje não tem mais utopias."
Para ele, as "ondas" de interesse pelos anos 60 são inconsistentes."Os jovens têm orgulho dessa geração, mas não conseguem trazer aquele espírito para hoje", diz.

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