São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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'Grande irmão' fiscaliza trânsito por todo o país

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

A imagem do guarda com apito e bloquinho para anotar as infrações do trânsito é coisa do passado. Hoje, nas grandes cidades brasileiras, os olhos do multador podem estar em qualquer parte, em câmeras de vídeo ou fotográficas prontas a registrar um excesso de velocidade ou uma conversão proibida.
Como no livro "1984", de George Orwell, as câmeras funcionam como o "Grande Irmão", que tudo vê (leia texto abaixo). Imagine uma cidade em que toda a frota de veículos possua um microchip que permita o controle da localização de cada carro por uma central de tráfego.
Os motoristas seriam vigiados por 200 câmeras de vídeo e dezenas de radares e câmeras fotográficas de alta definição que controlariam quem desrespeitasse as regras de comportamento.
Pois essa projeção, que mais se assemelha ao universo descrito por Orwell, retrata grandes capitais brasileiras de hoje.
Em São Paulo, câmeras que flagram quem não respeita o semáforo fotografaram 42 mil infrações no primeiro trimestre deste ano.
O entusiasmo pela alta velocidade nas vias largas e sem semáforos de Brasília foi barrado por 300 delatores eletrônicos, que só no ano passado conseguiram reduzir em 9,1% os acidentes na cidade.
No Rio, carros que atrapalham cruzamentos já aparecem na tela das autoridades de trânsito, que logo vão passar a multá-los.
O melhor exemplo do alcance dos novos aparatos eletrônicos foi dado pelo Paraná, um dos pioneiros na repressão tecnológica. Em outubro de 96, três criminosos foram presos cinco meses após terem matado o engenheiro Edilson Onishi, em Londrina.
Eles foram identificados depois que a polícia ampliou 40 vezes uma foto em que o carro do engenheiro, usado na fuga, foi flagrado passando em alta velocidade por duas lombadas eletrônicas.
Caminho sem volta
Especialistas em transporte afirmam que o uso do controle eletrônico tende a se intensificar nas grandes capitais do país.
"Em uma cidade do tamanho de São Paulo nunca haverá policiais em número suficiente para fiscalizar os motoristas", diz o consultor em transporte Jaime Waisman, que defende a utilização dos radares e lombadas eletrônicas.
Segundo ele, em cidades dos Estados Unidos (como Los Angeles e San Francisco) a utilização contínua das máquinas por vários anos reduziram o número de infrações -responsáveis por grande parte dos acidentes- em cerca de 50%.
O também consultor em transporte Eduardo Vasconcellos, ex-assessor da presidência da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), diz que o paulistano é irresponsável. Para ele, as principais medidas a serem adotadas são o controle da velocidade e o redesenho do sistema viário da cidade.
O diretor do Cepat (Centro de Psicologia Aplicada ao Trânsito), o psicólogo Salomão Rabinovich, diz que a utilização das máquinas é uma "invasão lícita e moral porque protege os cidadãos".
Roberto Scaringella, diretor do Instituto Nacional de Segurança no Trânsito, aponta o uso das máquinas como tendência internacional. "É preciso regras severas para a convivência em sociedade."
Segundo a CET, até o final do ano haverá na cidade 163 câmeras -hoje são pouco mais de cem.

Colaboraram a Sucursal de Brasília e a do Rio

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