São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Humano perde em 19 lances

MAURÍCIO TUFFANI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O computador Deep Blue, que vem sendo desenvolvido há oito anos pela IBM, venceu ontem em apenas 19 lances a sexta e decisiva partida do desafio contra o campeão mundial de xadrez, o russo Garry Kasparov, 34.
A causa maior da derrota de Kasparov foi o abandono da estratégia que empregou nos cinco jogos anteriores -com uma vitória para cada lado e três empates.
A principal vantagem de Deep Blue sobre o campeão é sua capacidade de avaliar lances -estimada em 250 milhões de possibilidades por segundo.
Para contornar essa desvantagem, Kasparov evitara complicações táticas nas partidas anteriores, preferindo linhas de jogo que privilegiavam o uso da intuição e criatividade.
Mesmo na segunda partida, quando sofreu sua primeira derrota, Kasparov desistiu quando estava numa posição clara de empate.
Ontem, ocorreu o contrário. O russo entrou num jogo muito complicado em termos de combinações. Isso daria certo com jogadores de carne e osso, mas seu adversário não era humano.
Não se desconcentrou com a presença do maior jogador da atualidade, nem se abalou com as complicações táticas que cresciam no tabuleiro. Desse modo, a derrota de Kasparov tornou-se praticamente inevitável. Materializou-se com a perda da dama, no lance 18.
Além de sua elevada capacidade de processamento, Deep Blue levou vantagens no plano psicológico. De Kasparov, é claro.
O campeão foi colocado -e assumiu essa posição- como o representante humano de uma luta contra a máquina.
Além disso, esse jogador nascido em Baku (Azerbaijão), em 1963, foi obrigado a abandonar seu estilo agressivo ("xadrez é para lutadores", costuma dizer), passando a jogar "na retranca".
Ainda teve que enfrentar provocações. "O fato de ele jogar com a bandeira russa, e o computador, com a dos EUA, é um exemplo disso. Esse não foi um confronto entre países", argumentou o Grande Mestre Internacional brasileiro Gilberto Milos Jr.
A disputa foi o evento enxadrístico de maior repercussão desde o match Boris Spassky (URSS) x Robert Fischer (EUA), em 1972, vencida pelo último. Mas, para quem esperava jogos espetaculares, a qualidade das partidas deixou muito a desejar.

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