São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Escândalo da CBF não causa surpresa

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Há jogadores que nasceram predestinados aos grandes momentos. Muller, por certo, é um deles. Faça um retrospecto de sua carreira e verá que ele estava ali no centro dos grandes momentos do São Paulo, do Palmeiras e agora do Santos: deu o passe para o gol de Caíco e selou a sorte corintiana ele mesmo, sábado, na Vila.
É o cara certo, no lugar certo, na hora exata.
*
Os 3 a 1 sofridos pelo Palmeiras diante do União, em pleno Parque Antarctica, lançam uma luz sobre a súbita escapada de Brunoro. O homem tem um sexto sentido de médium de Conan Doyle.
*
Nos anos 60, em cada mesa de bar, costumava-se brandir a frase da época, exarada pelo gênio não sei se de Sérgio Porto -o Stanislaw Ponte Preta-, de Millôr Fernandes ou de Don Rosé Cavaca: "Que se instale a moralidade, ou então, que nos locupletemos todos!"
Já naqueles tempos, a cartolagem brasileira havia feito a opção óbvia: o futebol sempre foi para eles um atalho que conduzia à realização de um destes três desejos inconfessos, quando não de todos juntos: 1) aplacar o ego transbordante; 2) transbordar as próprias contas correntes; 3) tomar de assalto uma posição política que lhes permitiria atender às exigências anteriores, de preferência, sob a proteção de um mandato parlamentar.
Por isso, quem acompanha o vaivém da bola preta que quica nos bastidores do futebol não se surpreendeu nem um pouco com o escândalo da CBF. E aqui quero cunhar com todas as letras a expressão "escândalo da CBF", para não compactuar com certa imprensa marota que tenta tipificar o caso como uma excrescência produzida isoladamente por um só dirigente esportivo, o indigitado Ivens Mendes, com a evidente intenção de poupar, sobretudo, o presidente Ricardo Teixeira. Pois não há como dissociá-lo do episódio. Muito menos seu tio Marco Antonio.
Seja por incúria, seja por cumplicidade de qualquer nível, Ricardo Teixeira é o maior responsável. Afinal, foi ele quem tirou do bolso o nome de Ivens Mendes. Colocou-o numa posição de alto relevo estratégico da entidade e conferiu-lhe poderes absolutos. E ali o manteve por quase dez anos.
Além do mais, Mendes, pelas conversas telefônicas grampeadas e reveladas pelo repórter Marcelo Rezende, na Globo, deixa claro que não escondia de ninguém suas manobras. Para ele, eram legítimas. Logo, jogava aberto. Até mesmo com o tio do presidente.
Ora, então só o presidente, naquele malfadado prédio da rua da Alfândega, colméia de intrigas, não sabia de nada?
Nem mesmo o Eremildo, do Elio Gaspari, acredita nisso.
Portanto, o mínimo de decência exige a suspensão pelo Tribunal da CBF não apenas dos presidentes do Corinthians e do Atlético-PR, além de Ivens Mendes, que, como ex, não está suspenso de coisa alguma. Mas também toda a cúpula da CBF, no mínimo por omissão, senão por conivência.
Isso, sem se falar no próprio Tribunal da CBF, cujos membros lá estão por instâncias de Ricardo Teixeira.
Que se instale, definitivamente, a moralidade. Sem "ou", pinóias!

Texto Anterior: 'Gostaria que tivesse esses pneus antes'
Próximo Texto: Mentiras e verdades
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.