São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Midnight Oil toca sem definir repertório

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro anos depois de uma traumática passagem pelo país, o grupo australiano de rock Midnight Oil está de volta, para delírio dos surfistas, dos politicamente corretos e mesmo dos adeptos de um rock'n'roll bem feito.
Em março de 1993, o estudante Marcelo Silva Lopes morreu eletrocutado ao tentar retirar Fernando Antonio Raja Gabaglia Neto, que morreu afogado, do fosso do Maracanãzinho, onde o Midnight Oil se apresentava.
O grupo toca de hoje a quarta-feira, no Olympia. Não promete nada, nem canções de seu novo disco, "Breathe", nem sucessos. "Nunca pensamos em um show específico", disse o vocalista Peter Garret, em entrevista por telefone à Folha, de Melbourne (Austrália). Leia os principais trechos da entrevista.
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Folha - Você vê o Brasil como um mercado ou basicamente como território para suas colocações políticas e ecológicas?
Peter Garret - Nenhum dos dois. É apenas um outro lugar no mundo para se tocar.
Folha - Você não tem interesses particulares em relação ao Brasil?
Garret - Estamos muito felizes em tocar novamente aí, mas não vemos os países como mercados. Gostaríamos de tocar nos pequenos clubes, nas ruas, no seu bairro, quando chegarmos em sua cidade.
Folha - Mas esse desejo de chegar mais perto das pessoas não implica em um desejo político?
Garret - Pode ser, mas depende da situação. O fato mais importante é ter a possibilidade de tocar diretamente para as pessoas, sem qualquer interferência.
Folha - Tocar ao vivo é a coisa mais importante para vocês?
Garret - Não. O mais importante é estar vivo (risos).
Folha - Existe algum país onde o Midnight Oil não toca, por algum motivo político?
Garret - Não tocamos na Indonésia, na China e no Japão.
Folha - Por que?
Garret - Não tocamos na Indonésia porque apoiamos a causa de Timor Leste (a Indonésia invadiu o Timor Leste em 1975, quando a região passava por um processo de independência em relação a Portugal).
Também é difícil tocar na China, pois ali os direitos humanos não são respeitados. Também não tocamos no Japão. Eles dizem que não somos elegantes o bastante.
Folha - Vocês se preocupam mais com problemas ecológicos ou com problemas humanos, como a liberdade de pensamento e expressão?
Garret - Uma liberdade está ligada à outra. Deveríamos manter conexões e envolvimento com a liberdade das pessoas para lutar pela natureza, pelos direitos humanos, contra o desemprego, pelos povos indígenas...
Folha - Qual o maior problema na Austrália atualmente?
Garret - O nosso governo conservador e a mídia, que têm muitos interesses econômicos.
Folha - Os aborígines já têm liberdade de expressão, liberdade para ter suas terras...?
Garret - Esse é a liberdade mais importante, a de possuir sua terra. Tivemos recentemente uma decisão muito importante da Suprema Corte australiana, que decidiu que os aborígines tinham direito sobre a terra. Isso foi contestado pelos proprietários de terras e estamos aguardando uma decisão final.
Folha - O que vocês estão pensando em tocar no Brasil, canções do último álbum, "Breathe", ou sucessos, como "Beds are Burning"?
Garret - Vamos tocar de tudo. Mudamos o show todos os dias. Depende muito de como nos sentimos. Nunca pensamos em um show específico para um determinado país.
Folha - Você se lembra dos shows no Brasil, em 1993? Daquelas mortes que aconteceram no Rio?
Garret - Claro. Nos correspondemos com a família de um dos rapazes, com o sr. Lopes (provavelmente alguém da família do estudante Marcelo Silva Lopes). Tentaremos fazer contato no Brasil.
Folha - Você pensa realmente que a música tem o poder de mudar alguma coisa?
Garret - A música não muda nada. As pessoas mudam. Existe a expressão "silent partner" (parceiro silencioso). Eu chamaria a música de "noise partner" (parceiro barulhento).
Acreditamos que temos que cantar enquanto pudermos, mas não acreditamos que as canções sejam escritas por causa de uma ação. O que acontece com elas depois que são escritas não podemos dizer. Talvez sobrevivam em um lugar legal, talvez morram...
Folha - Mas quando você escreve, existe sempre o desejo de transmitir uma mensagem...?
Garret - Isso é verdade, mas não se trata de uma peça de propaganda. É uma peça pessoal que, se alcança outras pessoas, significa que funcionou.
Folha - O Greenpeace é a única organização com a qual vocês têm contatos?
Garret - Trabalhamos em muitos países com diversas organizações. Trabalhamos com a Anistia Internacional, com organizações aborígines na Austrália.

Show: Midnight Oil
Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, Lapa, tel. 011/252-6255, Pompéia)
Quando: hoje, amanhã e quarta-feira, às 21h30
Quanto: R$ 40 (pista, R$ 50 (setor C) e R$ 60 (camarote)

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