São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Sobreviventes reviram ruínas com as mãos

STEVEN SWINDELLS
DA "REUTER", EM QAEN

Gritos e choros ecoavam ontem pelos vilarejos no oeste do Irã. Eram moradores olhando corpos esmagados de parentes sendo retirados dos escombros.
Ainda confusos, homens, mulheres e crianças iranianos usavam mãos e estacas para procurar parentes e bens soterrados sob suas desabadas casas de alvenaria.
"Perdi minha filha", gritava uma mulher com cerca de 50 anos, erguendo os braços em desespero pelas ruas empoeiradas e cobertas de entulho de Hadjiabad.
Na vizinha Abiz, um homem à beira dos 50 estava ao lado dos corpos de dois filhos, de 4 e 8 anos, enrolados num pano que deixava apenas os rostos feridos à mostra. "Estava fora de casa, trabalhando. Minhas crianças estavam sozinhas", dizia, enquanto chorava.
Um rapaz de 7 anos via o corpo de sua mãe sendo recolhido por parentes. Tentando confortá-lo, um trabalhador da equipe de resgate ofereceu-lhe um biscoito.
"Não há mulheres suficientes para lavar as mortas", disse um clérigo, referindo-se ao ritual islâmico de só enterrar corpos femininos lavados por mulheres.
Hossein Maldar, 20, estava no alto dos escombros da sua casa em Esbidan, 45 km a sudeste de Qaen, chorando pela perda de sua irmã, de 10 anos, e irmão, de 16. Suas calças pretas e mãos estavam cobertos de poeira.
A maioria das 500 casas de Esbidan ruíram. Sapatos, roupas, xícaras e até motos e carros apareciam por entre os escombros.
Em Hadjiabad, 400 moradores morreram em uma vila onde 40 pessoas gritavam durante o enterro de uma criança de 6 anos.
Moscas zuniam sobre os corpos espalhados pelas ruas poeirentas, enquanto muitas famílias promoviam enterros.
Um grupo de sobreviventes -abrigado em uma tenda da organização Crescente Vermelho- disse que estava sem comida, sem eletricidade e sem água potável.
Caminhões-pipa eram vistos a caminho de algumas vilas, e os voluntários da Crescente Vermelho carregavam pão e biscoitos.
O desespero total era palpável nas vilas onde os sobreviventes ainda estavam paralisados pela enormidade do desastre e pela necessidade de enterrar seus mortos.

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