São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Livro propicia viagem pela Espanha sem sair de casa

ARTHUR NESTROVSKI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O grande ensaísta Ralph Waldo Emerson (1803-1882), patriarca da cultura norte-americana, criticava o hábito de viajar porque ninguém viaja para fora de si.
E um personagem de Guimarães Rosa, em "Tutaméia", comenta, emersonianamente: "Tudo, para mim, é viagem de volta".
A indústria do turismo, cada vez mais forte, não parece refletir essa forma de humanismo absoluto.
Livros
O mercado de guias de viagem -cada vez maiores e mais bonitos- também não condiz com o pensamento dos sábios de Concord e Cordisburgo.
Veja-se a Espanha -onde o turismo responde por 10% da arrecadação do país, cortesia dos 57 milhões de viajantes que passam por lá todos os anos- e veja-se esse novo "Guia Visual Folha de S.Paulo - Espanha", com 672 páginas de informações detalhadas e mais de 1.400 fotos coloridas do país do flamenco e das touradas.
Publicado originalmente em inglês, pela Dorling Kindersley (uma das maiores editoras de livros didáticos e paradidáticos do mundo), o guia foi traduzido com esmero e contém informações adicionais especialmente para o leitor brasileiro.
A qualidade gráfica é de provocar orgulho nacional -não fora o fato de o livro ter sido impresso em Hong Kong.
Lindas fotos que ocupam páginas inteiras, ou até duplas, demarcam seções fartamente ilustradas com fotos menores, desenhos, plantas de prédios, mapas de rua e os característicos mapas em 3-D para as partes mais importantes de cada cidade da Espanha.
Texto
Menos espetacular na aparência, mas não menos festivo para o leitor, é o detalhadíssimo texto, uma verdadeira pequena enciclopédia sobre a Espanha.
Inclui desde aulas de história (de 800 mil a.C. a 1996) e de arte (Velásquez, Goya, Picasso) até roteiros de caminhada (o bairro Gótico em Barcelona, a Madri dos Bourbon, o Arenal em Sevilha) e descrições de alguns pratos típicos do país (ternera com alcachofras, gazpacho, pisto).
Granada, Salamanca, Tenerife, Valência, Múrcia, Aragão, Córdoba, Toledo: cada um desses lugares vai-se revelando em fotos e notas, monumentos e nomes, temperos, vinhos e música.
Para quem vai viajar, é um guia utilíssimo, criterioso e sem pompa. Para quem não vai, talvez seja mais útil ainda: é uma viagem sem sair do quarto, uma peregrinação barata e sem pressa, e que a gente pode repetir quantas vezes quiser.
Ninguém viaja para fora de si: mas quem pode dizer que já esteve em todas as partes de si?
A Espanha, terra prometida do sul da Europa, terra do Sol e da luz, é uma das tantas províncias que a gente precisa inventar ou descobrir na alma.
"O mundo existe para a educação de cada homem", dizia o mesmo Emerson. Viajar com o guia, ou dentro dele, é mais um começo dessa pedagogia.

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