São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 1997 |
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Transformações no mercado devem excluir o "tirador de leite"
SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES No Brasil, nos últimos anos, a cadeia do leite tem passado por profundas transformações. Os principais determinantes dessas transformações são:1 - A liberação do preço do leite no final de 1991. 2 - A queda da inflação, a partir de julho de 1994, com o Plano Real. 3 - Maior abertura do comércio internacional, a partir do início dos anos 90, especialmente com a efetivação do Mercosul. As transformações em curso afetam todos os elos da cadeia, do produtor ao consumidor. No segmento do consumidor, verifica-se aumento significativo de consumo de leite e derivados. Se, no início do Plano Real, o frango era a grande estrela, agora é a vez do iogurte, em razão do enorme aumento do consumo. No segmento da indústria, quatro transformações se destacam: 1 - Aumento da concorrência tanto na captação de matéria-prima quanto na colocação de produtos. 2 - Grande dinamismo na oferta de novos derivados. 3 - Mudança no critério de pagamento do leite ao produtor, considerando um preço base, acrescido de bonificações pelo volume e pela qualidade do leite. Dentro de uma mesma indústria, particular ou cooperativa, cada produtor recebe um preço, e a diferença entre o maior e o menor chega a 50%. 4 - Aumento da concentração industrial. Na produção, podemos identificar quatro transformações de grande impacto para toda a cadeia: 1 - Aumento significativo da produção de leite, de 14,5 bilhões de litros, em 90, para uma estimativa de 20,4 bilhões de litros este ano. 2 - Aumento da polarização da produção, com muitos produzindo pouco e poucos produzindo muito. Estima-se que os produtores de até 50 litros/dia representam 50% do total de produtores e respondem por apenas 10% da produção. No outro extremo, os produtores de mais de 200 litros/dia representam apenas 10% do total, mas respondem por 50% da produção. 3 - Aumento expressivo da produtividade do rebanho, o qual é frequentemente desconsiderado em razão de se utilizar a média para expressar a produtividade de uma população tão dispersa. Com certeza, no mínimo 50% dos produtores estão totalmente estagnados em termos de inovação tecnológica. Entretanto, pelo menos 60% da produção é proveniente de um pequeno grupo, que tem evoluído muito nos últimos anos. O estágio desse grupo ainda está muito distante do seu potencial máximo. Mas não se deve desconhecer seu inegável progresso. 4 - Aumento da velocidade com que a produção caminha para a região dos cerrados. Em Minas Gerais, as principais regiões produtoras são o Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba, deixando para trás regiões tradicionais como o Sul de Minas e a Zona da Mata. Goiás é a maior expressão. Num período de apenas seis anos, pulou da quinta colocação para o segundo lugar na lista dos maiores produtores. O que vai acontecer com o leite do Brasil nos próximos anos? Com certeza, as transformações estão longe de chegar ao fim, no contexto de uma economia globalizada. Examinando um pouco mais o segmento da produção, as realidades do produtor e do mercado sinalizam a imperiosa mudança do conceito de tirador de leite para o de empresário do leite. O que complica esse ajustamento é que a mudança tem de ocorrer rapidamente, sob pena de exclusão da atividade. A análise histórica da produção de leite do Brasil mostra que, até então, não ocorreu redução do número de produtores, até mesmo de pequenos produtores. Entretanto, essa realidade está próxima a se modificar, e a causa dessa modificação é a coleta de leite frio e a granel. As principais indústrias, particulares e cooperativas, estão com programas agressivos de coleta de leite a granel, criando todas as facilidades para o produtor adquirir resfriadores de leite. É fácil concluir que a colocação de resfriador na fazenda não se aplica a todos os produtores. O uso do resfriador traz a necessidade de melhorar muito a qualidade do leite. O frio não melhora a qualidade, apenas evita que ela piore. Os programas de coleta de leite a granel exigem volume de produção para viabilizar o pagamento do resfriador, e qualidade do leite. Tais exigências estão perfeitamente de acordo com os atuais critérios de pagamento, e tudo indica que as exigências de volume e de qualidade são os principais argumentos de expulsão de muitos produtores do mercado. Mesmo que eles estejam dispostos a receber preços baixos, as indústrias não estarão dispostas a receber o leite. Com certeza, as previsões anteriores têm profundas implicações sociais. Mas virar as costas para elas não é uma atitude inteligente. Da mesma maneira que a indústria pode ser o veículo de expulsão, ela também pode ser a salvação. Tudo é uma questão de mudanças de comportamento da indústria e do produtor, com o objetivo de vencer os graves desafios. Texto Anterior: Viv América Latina fatura US$ 400 mi em São Paulo Próximo Texto: Três remates ofertam 292 vacas Índice |
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