São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 1997
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Oposição convoca greve para amanhã

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A KINSHASA

A capital do Zaire espera ansiosa o encontro entre o presidente Mobutu Sese Seko e o líder rebelde Laurent Kabila previsto para amanhã em um navio sul-africano.
Parte da oposição decretou uma greve geral para pressionar pela queda de Mobutu. E Kabila ameaça continuar a luta e tomar Kinshasa se o arcebispo de Kisangani, monsenhor Monsengwo, aceitar liderar a transição de governo.
O segundo encontro dos dois líderes está previsto para se realizar ao largo da costa do Congo. Enquanto isso, a população de Kinshasa teme a violência não só de eventuais combates pela cidade, mas também por parte dos próprios soldados de Mobutu.
Andar e visitar edifícios públicos em Kinshasa significa ter de pagar gorjeta e suborno para funcionários, como os da alfândega ou imigração, e para militares.
A falta de disciplina da maior parte do Exército zairense é o principal risco dos próximos dias. Esse Exército tem uma história conhecida de saques contra sua própria população, como em 1991.
Fácil progressão
A população teme pelo que possa acontecer quando os soldados perceberem que seus chefes fugiram e eles ficaram para trás. O destino das forças leais a Mobutu é um dos pontos-chave de um acordo.
A ameaça de Kabila de tomar a cidade faz sentido quando se nota a fácil progressão dos guerrilheiros pelo interior. Em Kinshasa, contudo, estão as melhores tropas de Mobutu, a divisão presidencial.
Os soldados zairenses usam uma mescla variada de uniformes. É raro achar dois com o mesmo. Já a guarda presidencial tem não só melhor apresentação como melhores armas, além de uma reputação diferente. "São maus, cruéis", resume um zairense.
As tropas comuns têm pouco ânimo combativo, segundo um outro zairense que teve um parente enviado ao fronte em Kenge, local dos combates mais intensos.
É impossível dizer com certeza onde estão os rebeldes, se a 60 km -como eles têm afirmado- ou a 200 km -como sugere o governo- da capital. Um jornalista norte-americano disse ter visto à noite uma explosão distante, do alto do 19º andar de seu hotel. Mas a cidade continua pacífica.
Trunfo importante
Os rebeldes já estão de posse de praticamente toda a economia zairense, baseada principalmente na mineração. Eles já obtiveram um trunfo importante: um acordo no valor de US$ 50 milhões de uma companhia de mineração.
Esse acordo com a empresa canadense Tenke Mining Corporation, além de constituir um aumento importante nas finanças do grupo guerrilheiro, significa uma vitória política.
Empresas do Canadá e dos EUA prevêem a tomada do poder pelo líder rebelde e correm para conseguir concessões minerais, sabendo que um apoio neste momento conta bem mais do que depois de uma eventual vitória de Kabila.
Ele conseguiu outra vitória importante quando as companhias aéreas ocidentais pararam os vôos para Kinshasa, apesar de ainda não haver ameaça direta ao pouso de aviões na capital zairense.
A última a mudar seus vôos foi a companhia belga Sabena, que passou a desviar seus aviões para a vizinha Brazzaville no final de semana. Os belgas foram os colonizadores europeus do antigo Congo, renomeado Zaire por Mobutu em 71.
O fato de Brazzaville estar separada de Kinshasa apenas pelo rio Congo facilita as comunicações -daí não se poder dizer que a capital esteja efetivamente "cercada" pelos rebeldes. Uma balsa liga as duas cidades diariamente. O rio Congo pode ser transposto até mesmo por canoas, pois a distância é de centenas de metros.

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