São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 1997
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A fatura da esquerda

CLÓVIS ROSSI

Marbella Resort (Chile) - A partir de agora, pode-se criticar a esquerda por ter propostas ruins ou inexequíveis, mas não pela ausência delas.
O esboço de propostas alternativas ao chamado neoliberalismo, discutido no último fim-de-semana no Chile, é um caminho, bom ou ruim, ao critério de cada qual. Mas que há uma "coisa nova" no ar, como diz o filósofo e coordenador do grupo, Roberto Mangabeira Unger, lá isso há.
É importante que a esquerda, em especial o PT, tenha feito uma espécie de autocrítica em relação ao papel do Estado.
O empenho pétreo em rechaçar todas as reformas propostas pelo governo criava a sensação de que a esquerda defendia o status quo, quando, por motivos óbvios, deveria ser a primeira a criticá-lo.
Agora, Luiz Inácio Lula da Silva diz, com todas as letras: "Nem queremos o Estado velho, que não funcionava, nem o Estado mínimo, que também não funciona".
É importante também que o documento-base, embora ainda provisório, proponha a elevação paulatina da carga fiscal para 40% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da riqueza nacional). Hoje, está perto de 31%
Se já há uma chiadeira danada contra os 31%, é fácil imaginar o que ocorrerá com a proposta de aumentar 30% a carga tributária.
Mangabeira Unger apresenta, desde já, sua defesa: diz que a Europa tem carga mais alta do que os EUA, mas a gritaria contra os impostos é menor, porque "a sociedade vê os resultados, na forma de bens públicos".
Desconfio que, no Brasil, o pessoal preferiria que surgissem primeiro os tais bens públicos, na quantidade e qualidade necessárias, e só depois se aumentasse a conta.
Mas, numa democracia de fato, cabe à sociedade decidir quanto quer pagar e para ter que tipo de serviços públicos. De certa forma, é isso que a esquerda está propondo. Compra quem quiser.

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