São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997
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Pelado na sauna

GILBERTO DIMENSTEIN

Uma semana depois de o ministro Sérgio Motta revelar que só conversaria com alguns governistas "pelado na sauna", a Folha divulga que, no Congresso, nem sempre é preciso suar para ganhar dinheiro.
Fitas obtidas pelo repórter Fernando Rodrigues trazem a confissão do deputado Ronivon Santiago (PFL-AC) de que seu voto pela reeleição teria custado R$ 200 mil. As gravações produzem suspeitas em torno de mais parlamentares que também teriam passado pela sauna sem suar.
O material ainda não prova crime, mas serve de contundente início de investigação. A questão, agora, é saber se o episódio pára no Norte ou chega até Brasília. Se acaba no Congresso ou atravessa a Esplanada dos Ministérios e vai bater no Ministério das Comunicações, como indicam novas fitas divulgadas hoje.
Independentemente das conclusões, as fitas provocam um valioso debate sobre os perigos da reeleição.
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O Brasil não está atento ao alto risco de desmoralização embutido no direito à reeleição -não existe, até agora, um plano especial contra o abuso de poder. A lei tem efeitos pífios.
Se a aprovação da emenda já distribuiu suspeitas por todos os lados, imagine, então, quando a corrida começar para valer, e os candidatos tiverem as chaves dos cofres públicos.
Vários políticos americanos, entre eles o próprio presidente Bill Clinton, estão envolvidos nesse tipo de escândalo, prova de que dinheiro e eleição são mistura perigosa. E eles estão acostumados à reeleição.
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Apesar da força da Justiça americana, das entidades de fiscalização da sociedade e da tradição investigativa da imprensa, os dois partidos -Democrata e Republicano- aceitaram doações comprometedoras.
Mesmo num país com sólidas instituições -o que não é o nosso caso- há um clima geral de indignação provocado pelo dinheiro suspeito, aumentando o descrédito dos políticos. Resultado: tentam acalmar a opinião pública prometendo legislação mais severa.
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PS - Numa palestra segunda-feira em Nova York, o publicitário Washington Olivetto fez um resumo da política brasileira e concluiu que o surrealismo é a melhor maneira de ser realista no Brasil. Mas um escândalo federal cujo pivô atende pelo nome de Ronivon também já é demais.

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

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