São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 1997
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Crise derruba Bolsa e papéis brasileiros

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise provocada pela denúncia de que deputados venderam seus votos para aprovar a emenda da reeleição fez despencar as cotações das ações nas bolsas brasileiras e teve repercussão internacional.
No mercado interno, a queda na Bolsa de Valores de São Paulo foi de 3,42%, a maior desde fevereiro do ano passado. Só no mercado futuro de ações, a perda dos investidores que apostavam em uma alta chegou a R$ 73 milhões ontem.
No front externo, caíram o valor dos títulos da dívida brasileira e os papéis (ADR) da Telebrás na Bolsa de Nova York (EUA). ADR é a sigla em inglês para recibos de depósito americanos. Na prática, é negociada como uma ação.
Em relação a anteontem, o preço da ADR da Telebrás caiu 4%. Já o C-bond, nome do mais importante título da dívida externa brasileira, fechou cotado em 76% de seu valor de face. Sofreu um queda de 0,7% em relação ao dia anterior.
O noticiário das agências internacionais esteve repleto de boletins sobre a crise brasileira, batizada "money-for-votes scandal" (escândalo dinheiro-por-votos).
Esse alarido se explica pelo interesse dos investidores estrangeiros na estabilidade institucional do Brasil -um dos principais mercados emergentes no mundo.
"A primeira coisa que ele quer saber é se o governo é estável e se vai continuar assim", explica Ike Rahmani, diretor-superintendente do Banco Tendência, que administra US$ 500 milhões em investimentos estrangeiros no Brasil.
Segundo Rahmani, apesar da queda das ações, os investidores estrangeiros não perderam a confiança no Brasil. O momento é de expectativa: "Estão esperando mais informações".
No front interno, o governo tentou criar fatos para recuperar as cotações, mas perdeu a batalha da informação.
Até as 11h, a Bovespa já havia caído 2%. Às 13h, a queda chegara a 3,2%. O ponto mais baixo foi às 15h: bateu em - 4,1%.
Até essa hora, a falta de resposta do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, às acusações de que ele estava ligado à compra dos votos inquietava ainda mais o pregão.
As ações da Telebrás, estatal subordinada a seu ministério e cujas ações respondem por 62% dos negócios da Bovespa, puxavam a baixa do mercado.
A Telebrás PN caiu 4%; e a Telesp PN, 6%.
Depois que Motta resolveu fazer um pronunciamento ao vivo pela TV, o mercado reagiu -menos pela resposta do ministro às denúncias, mais pelo anúncio de que a Telebrás teria grande lucro no 1º trimestre.
Motta também aproveitou o espaço para anunciar para 1º de junho a assinatura do primeiro contrato de privatização da banda B da telefonia celular. As cotações subiram, mas voltaram a cair.
A grande dúvida entre os agentes era sobre o alcance do escândalo de venda de votos para a reeleição. O maior medo, uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).
Até ontem, a queda foi uma oportunidade para os investidores realizarem lucros. Isto é: transformar em dinheiro suas ações, que subiram 46% em média este ano.
Se essa queda agora se transformará em tendência, vai depender dos desdobramentos: a instalação ou não da CPI e a permanência ou não de Motta.

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