São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Livro revê carreira de Nuno Ramos

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Nuno Ramos pode se considerar um artista de sorte. Depois de conquistar a crítica, pode agora, finalmente, conquistar também um público mais amplo que aquele das vernissages. Lança hoje, no Masp, seu livro "Nuno Ramos".
O livro, em edição bilíngue (português e inglês), traz 150 reproduções coloridas de suas obras e textos de Alberto Tassinari, Lorenzo Mammi e Rodrigo Naves. E mais, tem um preço acessível: R$ 44.
"Acho importante que a recepção seja menos especializada. Eu tenho dificuldade de entender por que a penetração dos trabalhos de artes plásticas é tão pequena, no sentido que parece que ela não vira pensamento, não vira referência para pessoas de outras áreas."
Primeiro Nuno criou as telas matéricas, nos anos 80, como membro da Casa 7, grupo que foi sinônimo da revitalização da pintura, movimento que refletia tendência mundial da época. Era o início de uma obra de acúmulos, de materiais, de metáforas, de leituras.
"Eu trabalho com diversos gêneros e acho que levo esse gênero a um limite, mas sem negá-lo. Tenho até um certo apreço por me manter dentro dele. Eu me sinto atraído pelo gênero, diferentemente dos projetos de vanguarda, que atravessam os séculos tentando negar isso", disse.
Foi assim que Nuno incorporou os procedimentos acumulativos da pintura às suas esculturas e instalações. O acúmulo de materiais (espelhos, plásticos, madeira, arame, folhas secas, tintas, chapas de bronze) revelava uma preocupação com a ordem, surgimento e morte das coisas, como acontece em sua obra "111", leitura da tragédia acontecida em 2 de outubro de 1992, quando a PM de São Paulo invadiu o presídio do Carandiru e matou 111 detentos.
"Eu tive quatro peças grandes com as quais eu me envolvi de uma maneira cosmogônica, que partiu do '111'. Essa obra tem uma passagem de algo imediato, as manchetes dos jornais, para uma coisa mais cósmica, as fotos dos satélites. O '111', a 'Mácula', a 'Craca' e a 'Milk Way' trabalham também com esse conceito de vida e morte. É uma vontade de ter uma prosa elevada, sem perder uma circunstância, uma sujeira da vida."
Nuno já participou de três Bienais de São Paulo (1985, 1989 e 1995) e da 46ª Bienal de Veneza (1995). Não tem individual prevista para o Brasil este ano, mas participa de coletivas no México, Espanha e Inglaterra, na prestigiosa galeria Anthony D'Offay. A próxima individual acontece no início do ano que vem, no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona.

Livro: Nuno Ramos
Textos: Alberto Tassinari, Lorenzo Mammi e Rodrigo Naves
Lançamento: hoje, das 19h às 21h
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 011/251-5644)
Quanto: R$ 44

Texto Anterior: 'Jam' retrata cultura jovem de Londres
Próximo Texto: Antoni Muntadas bate na mesma tecla
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.