São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 1997
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'Quero dar poder às mulheres', diz Lauper

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cindy Lauper tem um gato preto. Sua parceira só usa roupas negras e colocou no filho o nome Merlin. Seu último disco, "Sisters of Avalon", foi gravado num bosque, "sob a energia das árvores". Mas ela jura que é tudo uma grande coincidência.
"Eu não pensei em Avalon, em rei Arthur, não sou inglesa (risos). Venho de New York, de uma família de italianos", afirmou à Folha, por telefone, de seu apartamento em Manhattan.
A cantora, que teve o auge na new wave dos anos 80 -vide o hit "Girls Just Want to Have Fun"-, agora abre os shows de outra veterana, Tina Turner, nos EUA.
Feminista declarada, Lauper se alterna na convicção de que é herdeira das bruxas medievais, queimadas apenas por exercerem sua liderança, e na negação a todo custo de fazer música engajada. "Quero só que as pessoas ouçam meu disco", diz, enquanto tenta afastar Nick, o gato preto, de seu almoço. A seguir, trechos da entrevista.
*
Folha - Qual a diferença de "Sisters of Avalon" para seus outros trabalhos?
Cindy Lauper - Esse é meu trabalho mais coeso. Eu compus com apenas mais uma pessoa da minha banda ou então sozinha, não soa como vários pedaços desconectados. O germe da idéia veio do trabalho em "Hat Full of Stars".
Folha - Você traz influências de várias partes do mundo para esse trabalho. Como o define?
Lauper - Minha partner é uma tecladista e nós sempre usamos elementos eletrônicos, especialmente sons sintetizados. Mas, como trabalhamos como um time, eu gosto de adicionar coisas acústicas, como violinos, a caixa de música do Tennessee, acordeão etc., porque, para mim, isso traz cor para o trabalho.
Folha - Você é uma feminista?
Lauper - Absolutamente. A única maneira de mudar as coisas é mudá-las no seu próprio mundo. Direitos femininos são muito importantes para mim. Mas são anos e anos de preconceito.
Folha - Qual é a importância de colocar essas posições no seu trabalho?
Lauper - O que eu realmente quero falar é sobre as pessoas e a vida real que eu vejo. Quero escrever canções que dêem poder para as mulheres, como "Sisters of Avalon". É uma canção que é um rito de passagem para as mulheres.
Folha - Como chegou a esse nome para o disco?
Lauper - Jane tem um filho chamado Merlin, e ela se veste de preto o tempo todo, e o marido dela comprou este livro "21 Rules of Merlin" e no livro havia as "Sisters of Avalon", mulheres que se vestem de preto e eram as curandeiras, líderes naturais. Ela estava me contando isso e Jane usa preto o tempo todo e nós começamos a rir e eu pensei: "Sisters of Avalon", esse é um grande nome. Meu agente também gostou.
Folha - Mas, pessoalmente, você é ligada nessa mitologia?
Lauper - Nesse momento, eu estava lendo "The Mist of Avalon". Mas a canção não tem nada a ver com o livro.
Folha - Vocês gravaram num bosque, foi intencional?
Lauper - Nós gravamos na floresta, a energia vinha daí, mas não foi intencional, foi no espírito da música.
Folha - Foi uma coincidência?
Lauper - Sim, foi uma coincidência. Mas eu gosto do bosque. Sabe, essas mulheres eram, na Idade Média, quando a Igreja Católica dominava a Inglaterra muitas mulheres foram queimadas, como se elas fossem bruxas, mas essas mulheres eram normalmente as que tinham outra religião lá. Elas eram as líderes espirituais e as curandeiras.
Folha - Você se considera diretamente ligada a isso?
Lauper - Sim, com certeza. Esse é o único período em que as mulheres tinham poder na sociedade. É uma sociedade onde homens e mulheres viviam juntos. E isso foi tirado de nós. Não nos conhecemos, não conhecemos nossa herança. Não sabemos quem somos.

Disco: Sisters of Avalon
Artista: Cindy Lauper
Lançamento: Sony
Preço: R$ 18 (o CD, em média)

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