São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 1997
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Gil e Cristovam Buarque debatem o 'mundo do invisível'

Músico ainda mostrou cinco números de 'Quanta'

DANIEL BRAMATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um debate sobre "Arte e Ciência", encabeçado por Gilberto Gil e o governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), desafiou a capacidade de abstração dos cerca de 500 espectadores que superlotaram o Espaço Cultural 508 Sul, em Brasília.
Durante duas horas, segunda-feira à noite, o público ouviu divagações sobre o "esfarelamento da matéria" provocado pela física quântica, entremeadas por cinco canções de "Quanta", disco recém-lançado por Gil.
O compositor abriu a discussão falando sobre a dificuldade de traduzir "para a linguagem poética acessível" suas "impressões vagas sobre os significados emanados da relatividade, da mecânica quântica, da inserção profunda no mundo do invisível a partir do bombardeamento do átomo e das múltiplas partículas".
Moreno Veloso, parceiro de Gil na composição "Nova" e estudante de física, foi alçado à condição de especialista na matéria e convidado a explicar os conceitos científicos aos leigos.
"Tenho prova de física quântica e não sei nada, mas não estou preocupado. Quanto mais estudo, mais chego à conclusão de que isso não é nada. A quântica aproxima a ciência do nada", disse.
O "nada" também norteou a participação de Buarque, que promoveu o debate. "Eu tenho uma visão espiritualista da matéria. A matéria, no âmago, é formada por ondas. E onda é nada", disse o governador, escritor e ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB).
Invisível
Gil definiu "Quanta" como uma abordagem "aberta, múltipla e precária" da ciência, motivada pela curiosidade sobre "o mundo do invisível, não alcançável pelos sentidos".
Essa curiosidade, segundo ele, é saciada "um pouco pela religião, um pouco pelo mundo mágico e um pouco pela ciência". A canção que dá título ao disco diz que "a arte é irmã da ciência, ambas filhas de um Deus fugaz".
Buarque também contestou as barreiras que separam a arte da ciência. "Nos extremos da competência sempre existem as duas coisas. A teoria da relatividade é tão ciência quanto arte, na beleza que nos mostra. Do mesmo jeito que uma peça de Shakespeare é tão arte quanto ciência", afirmou.
Ciência e arte
O governador lembrou que o músico pernambucano Chico Science "descobriu numa figura da ciência (Josué de Castro, autor de "Geopolítica da Fome") a inspiração para a sua arte".
Quase ao final do debate, Gil foi provocado por um espectador: "Como é que um sujeito maravilhoso como você pode apoiar um desumano como Fernando Henrique Cardoso?"
"Se tivesse todas as respostas, não estaria aqui debatendo. Não tenho a explicação científica para a simpatia", respondeu.
Também participaram do evento o músico Rogério Duarte e o antropólogo José Jorge de Carvalho.

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