São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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Artistas ocupam 1ª fila para pressionar

FERNANDA DA ESCÓSSIA; LUCIA MARTINS; MAURO TAGLIAFERRI
DA SUCURSAL DO RIO

e dos enviados ao Rio
Dez cadeiras extras e amigos famosos na platéia garantiram à novelista Glória Perez, mãe de Daniella Perez, um esquema informal de pressão que provocou protestos da família de Paula Thomaz.
As famílias da vítima e da ré haviam recebido inicialmente cinco credenciais cada uma para assentos nas primeiras fileiras da platéia do 1º Tribunal do Júri do Rio.
Ontem, Glória Perez negociou com o juiz José Geraldo Antônio mais dez cadeiras no plenário para um grupo de artistas que incluía Marieta Severo, Maria Zilda e Paulo César Grande. No começo da noite, Caetano Velosso também foi ao tribunal.
"Eu também gostaria de ter mais credenciais. Isso não é justo. Todas essas pessoas, esses artistas, influenciam ainda mais a opinião pública contra minha filha", disse Paulo de Almeida, pai de Paula.
A atriz Maria Zilda Bethlem disse considerar "legítima" qualquer forma de pressão. "A pressão existe e sempre tem de existir. Não é ilegal pressionar. É uma questão de consciência. Vim a este tribunal com esperança de ver um pouco de justiça neste país", afirmou.
A atriz Isadora Ribeiro também disse que estava no plenário para "assistir à justiça". Ela afirmou que entende por "justiça" e por "julgamento justo" a condenação de Paula Thomaz.
Às 17h30, o plenário e a sala de imprensa estavam lotados. Uma auxiliar do juiz pediu a assessores do tribunal que a entrada fosse mais bem controlada. Se os convidados de Glória Perez ultrapassassem os 15 previstos, teria que ser feito um rodízio de credenciais.
A preocupação dos funcionários era que, durante os debates entre promotoria e defesa, faltassem lugares no plenário para pessoas credenciadas.
"Não há como proibir a entrada de artistas, afinal eles são cidadãos e gozam da liberdade de ir e vir. Mas por que eles têm sempre de se sentar na primeira fila enquanto o povão fica lá atrás?", afirmou Nélio Soares de Andrade, advogado de cinco acusados de participar na chacina de Vigário Geral.
"O artista é um formador de opinião pública. Eles são usados até para eleger presidentes da República. A presença deles pode ser usada como forma de pressão ao júri", acrescentou.
A presidente da Associação de Familiares de Vítimas da Violência, Vera Dias Carneiro, disse que a pressão é uma arma da sociedade civil, mas criticou a distribuição de credenciais.
"Os movimentos que apóiam Glória (Perez) desde o início tiveram de pegar fila para entrar. Nós obtivemos credenciais com o advogado do Guilherme de Pádua. Já os artistas se sentaram na primeira fila", afirmou.
(FERNANDA DA ESCÓSSIA, LUCIA MARTINS E MAURO TAGLIAFERRI)

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