São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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Filme lança novo olhar sobre tema surrado

SÉRGIO DÁVILA
DO ENVIADO ESPECIAL A CANNES

A cada 5.000 anos, as portas do universo se abrem e o Mal tenta destruir o Bem. Se seres perfeitos de outra galáxia não descerem à Terra e fizerem uma série de manobras, o Mal triunfa.
Assim, pop assim, começa "O Quinto Elemento", de Luc Besson.
Em escavações no Egito, em 1914, a verdade acima é revelada. Salta para 300 anos depois, quando as forças do mal, auxiliadas pelo comerciante de armas Zorg (Gary Oldman), estão prestes a destruir a Terra.
Isso só não acontecerá se o padre Cornelius (Ian Holm) conseguir com que o "quinto elemento" (um belo ser humano, a ex-modelo Milla Jovovich) se encontre com os quatro outros elementos (pedras), auxiliado pelo taxista Korben Dallas (Bruce Willis).
Essa é a história resumida do filme. A premissa básica das histórias em quadrinhos: bem X mal. A partir daí, pode-se fazer rigorosamente tudo, de maus dramas a boas ficções científicas.
O último é o caso de "O Quinto Elemento'. Não é original. Ao assisti-lo, tenha em mente a seguinte lista de referências: "Metrópolis", "2001 - Uma Odisséia no Espaço", a trilogia "Guerra nas Estrelas", "Blade Runner", "Brazil - O Filme" e até o péssimo "Stargate".
O que pega, o que faz de "O Quinto Elemento" o melhor filme pop do ano, porém, é exatamente o novo olhar que joga sobre tão surrada trama. Um olhar europeu numa área maciçamente dominada pelos padrões americanos?
Sim. Há uma luz ("Eu queria uma luz natural, não que alguém inventasse a suposta 'luz do século 23"', disse em Cannes Besson) estranha, que cativa. Há uma cor, um jogo de cintura e um humor difíceis de serem encontrados em filmes do gênero (leia quadro).
Há personagens secundários que fazem a diferença: Ruby Rhod (Chris Tucker), o DJ pansexual que ajuda o herói em sua missão (e a cena dele transando com a comissária de bordo já é antológica); a atriz Maiwenn Le Besco como a esquisita Diva; a ponta engraçada do músico Tricky.
Há, por fim, um time invejável de colaboradores. Jean-Paul Gaultier, que dá o ar moleque do figurino (repare na roupa do padre, que "fashion"; repare na camisetinha justa do macho Willis).
E os desenhistas Jean "Moebius" Giraud e Jean-Claude Mézières, responsáveis pela concepção visual dos cenários e dos personagens não-humanos. Compare o Jabba de George Lucas com os seres de Moebius que chegam às escavações no começo -eis aí o exemplo de "novo olhar".
"O Quinto Elemento" foi mal recebido em Cannes. A crítica internacional torceu o nariz para algumas coisas, basicamente a atuação de Bruce Willis e uma suposta "hollywoodização" de um filme, em tese, francês. Duas bobagens.
Willis é o que é -faz o que se espera dele. Como disse em Cannes Gary Oldman, "Não se faz um filme desses como quem faz David Mamet, mas como quem vai à Disneylândia".
Quanto à nacionalidade, o filme é tão tipicamente francês quanto a pizza da Pizza Hut é italiana -a essência está lá, mas quem quer saber? "Quem quer saber onde nasceram os girassóis quando vê um quadro de Van Gogh?", comparou, imodestamente, Luc Besson.
Quem quer saber de onde vem o filme se ele é bom e diverte?

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