São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Mulheres aprovam camisinha feminina

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos mil mulheres de várias capitais brasileiras estarão, em breve, carregando na bolsa uma caixa de camisinhas femininas.
A missão dessas mulheres será experimentar o preservativo e anotar a reação de seus parceiros dentro de uma grande pesquisa do Ministério da Saúde que deve começar em dois meses.
Os homens que se preparem para se defrontar com um "objeto estranho" que já ganhou o apelido de "coador" ou "saquinho".
Seu uso, no entanto, tem agradado a homens e mulheres. Um estudo já concluído com 96 voluntárias paulistas revelou grande aceitação: 75% disseram que gostaram muito e só 17,5% dos homens afirmaram que não gostaram nada.
Quase 90% das mulheres e 62,6% dos homens disseram que gostariam de continuar usando.
Nos relatos colhidos pela pesquisa, boa parte das mulheres afirma que a camisinha é feia. Mas a colocação -considerada difícil no início, e que exige as pernas abertas ou apoiadas sobre uma cadeira- é relatada como um momento de grande excitação pelos parceiros.
Se o pedido de registro não empacar no Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia) ou na Vigilância Sanitária, o preservativo estará nas farmácias ainda este ano. Já vai chegar atrasado: em pelo menos 14 países a nova camisinha já está à venda, entre eles os vizinhos Chile e Argentina.
Sucesso
Há duas semanas, um encontro em Washington (EUA) confirmou o sucesso do novo preservativo: a grande maioria dos estudos realizados em 28 países revelou uma aceitação superior a 50%. Na Inglaterra, 69% das mulheres disseram gostar do preservativo, na Alemanha, 59%. Em países africanos, a aceitação chegou a 90%.
A reunião de Washington foi organizada por instituições internacionais como a Organização Mundial da Saúde, as Nações Unidas, Family Health International, e outras órgãos que patrocinaram as pesquisas internacionais.
Uma nova rodada de grandes estudos será iniciada já nos próximos meses. Maria Cristina Pimenta, chefe de prevenção do Programa Nacional de Aids, que esteve em Washington, disse que a Unaids -o programa de Aids das Nações Unidas- já reservou 13 milhões de preservativos para serem distribuídos a vários países, entre eles o Brasil.
Segundo ela, estudos multicêntricos começam ainda neste semestre no Brasil. Independentemente da pesquisa, o programa de Aids já se comprometeu a distribuir essas camisinhas no ano que vem, como faz com os masculinos. "Mas, antes, é necessário que o preservativo seja aprovado pela Vigilância Sanitária", afirma.
Em Brasília, a Vigilância afirma que depende da aprovação do Inmetro. E, no Rio, o Inmetro diz que ainda não há uma norma nacional para a camisinha feminina que, oficialmente, não existe.
Saúde pública
"Trata-se de uma questão de saúde pública que merece a mesma prioridade dos medicamentos", diz Maria Eugênia Fernandez, monitora da pesquisa de São Paulo e presidente da Associação Saúde da Família.
Uma das preocupações das instituições e das mulheres é o preço do novo preservativo. No encontro de Washington, os organismos internacionais acenaram com um mínimo de R$ 0,60 por unidade, dez vezes mais que o masculino. Às farmácias, a camisinha feminina chegaria por R$ 3 a unidade.

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