São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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A globalização no mercado imobiliário

NESSIN D. SARFATI

Antes despreparado, o Brasil está se acostumando ao processo irreversível da globalização dos mercados mundiais, em que é preciso ser melhor, mais barato e mais eficiente. Isso resultou na volta da confiança internacional no país e, também, em investimentos em vários setores. Tivemos chance de testar a capacidade e eficiência de nossa indústria, que se mostrou competitiva em nível mundial em vários segmentos.
E como tudo isso atinge o mercado imobiliário?
Engana-se quem pensa que, não sendo possível importar prédios ou que sendo complexa a vinda de construtoras ou incorporadoras internacionais, encontramo-nos protegidos.
Engana-se ainda quem acha que, por serem necessários grandes investimentos de longo prazo, aliado ao fato de que esse é um mercado dependente de know-how local, qualquer investimento estrangeiro apresenta alto risco.
De início, podemos verificar o interesse demonstrado por escritórios de arquitetura norte-americanos em marcar presença no país.
Muitos já desenvolvem projetos em parceria com arquitetos brasileiros. É o caso da Skidmore, Owings & Merryl -maior escritório de arquitetura dos EUA.
Como esses, vemos também outras empresas de serviços desenvolvendo projetos com custos similares aos praticados no país, porém com qualidade por vezes superior. Não que sejam simplesmente melhores, mas é que a parceria e a troca de experiências entre equipes de lá e daqui resultam em um trabalho final superior.
E, devido ao nível de exigência desses novos projetos, dentro de padrões internacionais, assistiremos a uma revolução em todo o setor imobiliário.
Vemos, assim, construtoras norte-americanas, como a Turner, já atuando no país em parceria com empresas locais. Empresas especializadas em administração e manutenção predial, como a Galbraith e Johnson's Controls, já se associaram a empresas locais.
O mesmo acontece com consultorias internacionais de "real estate", como Richard Ellis, Mackenzie Hill e Herzog.
É grande o interesse do capital internacional em participar de investimentos no Brasil. Imaginem bancos estrangeiros financiando moradias a taxas internacionais, por prazos de 20, 30 anos, como acontece lá fora. O país se transformaria num canteiro de obras...
A ponta do capital estrangeiro já aparece em empresas como a Multiplan, associada à Goldman Sachs, e na empresa criada pelo grupo argentino Irsa (leia-se George Soros) com a Cyrela, a Brazil Realty, com ações negociadas em bolsas do Brasil e do exterior e voltada a investimentos no setor imobiliário como um todo.
Notam-se no Brasil taxas de retorno no setor superiores que as do resto do mundo. Mas, com essa maior oferta de capital, essas taxas serão reduzidas, se aproximando dos níveis internacionais.
Haverá muita competição, e o lucro será reduzido, valorizando a eficiência. Será o início do fim da era do desperdício na construção. É um processo demorado, mas é certo que a globalização no setor imobiliário já começou.

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